sábado, 31 de janeiro de 2015

O princípio da igualdade.


Por Ives Gandra Martins.

Os recentes e trágicos episódios que levaram ao assassinato de 12 dirigentes do jornal “Charlie”, dedicado a ironizar todas as crenças e costumes, a título de uma ilimitada liberdade de expressão, traz, novamente, à baila a discussão sobre o conteúdo desse conceito e o respeito aos direitos alheios, numa democracia, até por que os direitos naturais e fundamentais à dignidade humana ganham cada vez mais evidência no mundo atual.

John Rawls, em seu livro “Justiça e Democracia”, no qual esclarece pontos obscuros de sua “Teoria da Justiça”, entende que as verdadeiras democracias fortalecem-se com a predominância das “teorias não abrangentes”. Estas teorias, formuladas na complexidade das relações humanas e no conhecimento da conjuntura, cada vez maior, pelos sete bilhões de habitantes do planeta Terra, graças aos meios eletrônicos de comunicação, de acesso inclusive aos analfabetos, exigem respeito às teorias contrárias, pois da convivência e diálogo com elas é que resulta o fortalecimento dos regimes democráticos.

As “teorias abrangentes” são sempre tirânicas, ditatoriais, impositivas, visto que a fastam a coexistência de pontos opostos da cultura, pretendendo uma solução definitiva para todos os aspectos das relações humanas. Seus adeptos só enxergam a prevalência das próprias idéias. Todas as teorias contrárias devem ser eliminadas. Na concepção de Rawls, há sempre “um véu de ignorância”, em cada ser humano, quanto aos infinitos fatores que podem influenciar suas formulações, principal motivo de convivência entre teorias “não abrangentes”, nas democracias. Nenhum cidadão é senhor supremo da verdade.

Ora, a “liberdade de expressão” é um direito fundamental, cláusula pétrea na Constituição Brasileira (art. 5º inciso IV), assim como, a meu ver, também o é a liberdade da imprensa (art. 220 da Lei Suprema “caput”). Há necessidade, todavia, de não se confundir “liberdade de expressão” com “irresponsabilidade de manifestação”, para que não se transforme a “liberdade”, sem “responsabilidade”, em uma espécie de “vaca sagrada indiana”. Intocável.

No Brasil, o exercício da liberdade de expressão tem levado a distorções profundas. De um lado , pretende-se considerar qualquer piada sobre homossexuais – há projetos de lei e reivindicações neste sentido - profunda violência à dignidade da pessoa humana, com potencial delitivo superior ao homicídio, latrocínio, agressões, atentados à propriedade, roubo, furto, estelionato, peculato etc. O mesmo se diga em relação à raça negra, chegando-se ao cúmulo de pretender-se proibir a circulação de livros de Monteiro Lobato, a pretexto de que neles haveria conotações racistas!

Sou um profundo respeitador dos direitos alheios. Tenho grande admiração pela cultura negra e respeito o direito dos homossexuais . Há, todavia, uma espécie de síndrome de “irracionalidade”, ao pretender-se tornar inafiançável qualquer observação ou piada que se possa fazer sobre “gays”, muito embora todos possam fazer piadas sobre a presidente da República, sobre crenças religiosas, sobre sacerdotes, sobre preferências de pessoas por clubes de futebol, onde a linguagem, nos campos, nem sempre é publicável nos jornais .

Por outro lado, por parte de uma minoria não crente em Deus – cuja opinião respeito -, há uma forte tendência a ironizar e atacar a esmagadora maioria de brasileiros que crêem. Na França, o próprio jornal “Charlie” é especializado em ironizar, o mais das vezes com pouco humor e muita grosseria, a Igreja Católica e outras religiões.

Consideram, os que atacam Cristo, seus seguidores e os que acreditam em Deus, que estão exercendo o direito à liberdade de expressão. Mas entendem caracterizar homofobia qualquer observação que se faça sobre os “gays”, e racismo, qualquer referência a pessoas negras, a ponto de defenderem a caracterização como crimes inafiançáveis .

De rigor, ninguém é mais preconceituoso do que o intelectual elitista, que não se limita a defender suas ideias, mas usa as palavras para atacar todos os valores difundidos pelos que crêem em Deus e, principalmente, em Cristo. A maioria da população brasileira é cristã (católicos, evangélicos e pentecostais). Há por parte dessa “intelectualidade” uma evidente “Cristofobia”, apesar de intransigente defensora de punição à “homofobia” .

Pelo princípio da igualdade e pelo respeito aos direitos humanos, deve–se considerar que qualquer agressão real à dignidade humana não pode ser acobertada pela “liberdade de expressão”, tanto que enseja responsabilização. Violentar tais princípios numa democracia , criando distorções que a Constituição não permite (art . 5º “caput” e § 1º da Lei Suprema, que, por três vezes, reafirma a inviolabilidade do princípio da igualdade), além de injurídico é absolutamente irracional e antidemocrático.

Por fim , sobre o “Charlie”: enquanto as charges sobre Maomé trouxeram a morte a seus dirigentes, pelas mãos dos radicais islâmicos, as charges sobre o Papa provocaram, em grande parte dos católicos apostólicos romanos, orações por suas almas.


O pior dos preconceitos é o de uma elite que se autoproclama intelectual, mas deixa de ponderar o conteúdo do direito à liberdade de expressão em face dos demais direitos inerentes à dignidade humana. Principalmente, na França, que, conforme mostrou Samantha Pflug , em seu livro “O discurso do ódio”, proibiu que se reexaminassem determinados fatos históricos (holocausto) e limitou a liberdade pública de expressão religiosa, a partir de uma confusa concepção de “Estado Laico”, que, de rigor, não é “Estado ateu”, mas apenas um Estado, onde as instituições religiosas não interferem na administração pública .

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Santos do Brasil.


Dom Fernando Arêas Rifan.
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Visitei recentemente, em Baependi, MG, a Igreja onde se encontra o túmulo da Bem-aventurada Francisca Paula de Jesus Isabel, conhecida como Nhá Chica, a mãe dos pobres, a pérola escondida. Mulher simples, negra, filha de escrava, cheia de fé, devotíssima de Nossa Senhora, imersa na oração e que, apesar de analfabeta, dava sábios conselhos a todos que a procuravam e, não raramente, profetizava o futuro.

O Conselheiro João Pedreira do Couto Ferraz era uma figura das mais eminentes do Império pela sua cultura, virtudes e pelo caráter firme, do qual deu grande prova, pública e corajosa, durante o processo de Dom Vital de Oliveira, Bispo de Olinda. Como diz a História do Brasil, no célebre episódio da questão religiosa, uma das causas da queda da monarquia, Dom Frei Vital de Oliveira, foi levado ao Tribunal pelo crime de defender os direitos da Igreja. Ao entrar o Bispo no Tribunal, acompanhado de mais dois Bispos, o Conselheiro Pedreira que, por dever do seu cargo, estava a contragosto presente, vencendo o respeito humano, foi receber os Bispos e, ajoelhando-se, osculou o anel de Dom Vital, santo Bispo mártir. Houve aplausos e um frêmito de raiva entre os Ministros do Supremo Tribunal. Quando apontaram a Dom Vital o banco dos réus, o Conselheiro Pedreira, secretário do Supremo Tribunal, afastou aquele banco e foi buscar a sua poltrona, convidando o Prelado a assentar-se.

Esse notável Conselheiro do Império, veraneando em Caxambu, MG, acompanhado de sua primeira filha, Zélia, no esplendor dos seus 15 anos, visitou Nhá Chica, na vizinha Baependi, tendo ouvido falar da fama de sua santidade. Ele pediu a Nhá Chica orações pelo futuro da sua filha Zélia, que, constituía, pela sua formosura, inteligência precoce – falava várias línguas -, talento poético e literário e virtudes cristãs, o maior tesouro daquela família. Nhá Chica se retirou a rezar a Nossa Senhora e, após a Missa, disse ao Conselheiro: “Esta moça vai se casar, terá muitos filhos, depois será toda de Deus, Nosso Senhor”.

De fato, Zélia se casou com o Dr. Jerônimo, engenheiro formado em Ciências Humanas na Alemanha e em Engenharia Civil no Rio de Janeiro. Dos seus 9 filhos, 3 se tornaram sacerdotes e 6 se consagraram como religiosas. O casal, dono de grande fazenda de café, se dedicava a obras de caridade e evangelização, tornando-se exemplo de família cristã para o seu tempo e para os dias de hoje.

Jerônimo morreu com fama de santidade em 1909. Zélia, viúva, distribuiu todos os seus bens aos pobres e se consagrou como religiosa na Congregação Sacramentina, vindo a falecer em 1919. Nhá Chica foi beatificada em 4 de maio de 2013, pelo Cardeal Ângelo Amato, delegado do Papa Francisco, em Baependi. Jerônimo e Zélia, como o primeiro casal brasileiro, estão já no processo de beatificação.


A santidade está ao alcance de todos, europeus e brasileiros, ricos e pobres, letrados e analfabetos, brancos e negros. Está ao nosso alcance também. 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

02/02/1981 - Apresentação do Senhor - João Paulo II

FESTA DE APRESENTAÇÃO DO SENHOR
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 1981

Caríssimos Irmãos e Irmãs no Senhor!

1. É para mim uma profunda alegria encontrar-vos hoje, nesta Basílica, vós, Religiosos e Religiosas, que representais de maneira privilegiada aquela grande riqueza espiritual, que é, para o crescimento e o dinamismo, da Igreja de Deus, a vida consagrada. Saúdo também os representantes das Basílicas patriarcais, das Colegiadas de Roma, das Igrejas nacionais na Urbe, o Colégio dos Párocos urbanos, os Seminários romanos, os Colégios eclesiásticos, as Arquiconfrarias e todos os fiéis.

Este encontro realiza-se num rito que, na Liturgia renovada pelo Concílio Vaticano II, assumiu um posto e um significado particulares: reunimo-nos para celebrar a festa, à qual foi restituída — como afirmou o meu Predecessor Paulo VI — a denominação de "Apresentação do Senhor", e que "deve ser considerada, a fim de que se possa captar plenamente o seu riquíssima conteúdo; nela se evoca, de facto, a memória, ao mesmo tempo, do Filho e da Mãe; quer dizer, é a celebração de um mistério da salvação operada por Cristo, em que a Virgem Santíssima esteve a Ele intimamente unida, como Mãe do Servo sofredor de Javé e como executora de uma missão respeitante ao antigo Israel, e, ainda, qual exemplar do novo Povo de Deus, constantemente provado na fé e na esperança, pelo sofrimento e pela perseguição" (Marialis Cultus, 7).
2. A Liturgia de hoje representa e reactualiza um "mistério" da vida de Cristo: no Templo, centro religioso da nação hebraica, no qual eram continuamente sacrificados animais para serem oferecidos a Deus, faz o seu primeiro ingresso, humilde e modesto, Aquele que, segundo a profecia do profeta Malaquias, deverá sentar-se "para fundir e purificar" (Mal 3, 3), de modo particular, as pessoas consagradas ao culto e ao serviço de Deus. No Templo faz a seu primeiro ingresso Aquele que "teve de assemelhar-Se em tudo aos Seus irmãos, a fim de ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, para expiar os pecados do povo" (Heb 2, 17).

O Salmista, antevendo tal vinda, exclama cheio de entusiasmo, ao dirigir-se ao mesmo Templo: "Levantai, ó pórticos, os vossos dintéis, / levantai-vos, ó pórticos antigos, / para que entre o rei da Glória! / Quem é este rei da Glória? / É o Senhor forte e poderoso, / o Senhor poderoso nas batalhas / ... O Senhor dos exércitos, Ele, é o rei da Glória" (Sl 23, 7-10).

Mas o "rei da Glória" é, agora, um pequeno recém-nascido de quarenta dias, que é levado ao Templo para ser oferecido a Deus, segundo a prescrição da lei de Moisés.

Quem é na realidade este recém-nascido? A resposta a esta pergunta, fundamental para a história do mundo e da humanidade, é dada profeticamente pelo velho Simeão, que, tomando a criança nos seus braços, vê e intui nela "a salvação" de Deus, a "luz para iluminar os povos", a "glória" do povo de Israel, a "queda e o ressurgimento de muitos em Israel", o "sinal de contradição". Tudo isto é aquela criancinha, que, embora sendo o "rei da glória", o "Senhor do Templo", ali entra pela primeira vez, no silêncio, no escondimento e na fragilidade da natureza humana.

3. Hoje, quarenta dias após a solenidade do mistério do Nascimento de Cristo, como festa da Apresentação do Senhor, a Liturgia entende já iluminar, diante de nós, a perspectiva da Vigília pascal, em que será benzido o círio, símbolo do Cristo ressuscitado, vencedor do pecado e da morte.

Também hoje a Igreja faz-nos benzer os círios, que vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, trouxestes convosco num gesto de oferta, cheio de um profundo significado interior. O círio, que tendes nas vossas mãos, é antes de tudo o símbolo do Cristo, "glória de Israel e luz dos povos", e também símbolo do seu poder e da sua missão messiânica. Por isso compartilhamos com os outros esta luz e pretendemos transferi-la para todas as atitudes da nossa vida.

4. Este círio representa também o dom da fé, infundida em vós no santo Baptismo, no qual fostes oferecidos e consagrados Santíssima Trindade. Mas este círio, nas vossas mãos de Religiosos e de Religiosas, quer significar, em particular, aquela escolha incondicional, que fizestes de Cristo, luz da vossa vida, no dom definitivo e total de vós mesmos, dedicando-vos vida religiosa, que é uma forma mais perfeita da consagração baptismal: "Os membros de cada um dos Institutos — afirma o Concilio Vaticano II — tenham, antes de tudo, presente que, pela profissão dos conselhos evangélicos, responderam ao chamamento divino, de modo a, não mortos para o pecado, mas renunciando também ao mundo, viverem exclusivamente para Deus. Colocaram toda a sua vida ao Seu serviço, o que constitui uma consagração especial, radicada intimamente e expressa mais plenamente na consagração do Baptismo" (Decr. Perfectae Caritatis, 5).

Sois portanto chamados a uma particular imitação de Jesus e a um testemunho vivido dasexigências espirituais do Evangelho na sociedade contemporânea. E se o círio, que tendes na mão, é também símbolo da vossa vida, oferecida a Deus, esta deve consumar-se toda inteira pela sua glória.

5. Sois confortados, ajudados e estimulados a esta imitação e a este testemunho pela exemplar atitude interior das pessoas, de que nos fala o Evangelho de hoje: pelo amor silencioso e terno de São José; pela fé forte e constante do velho Simeão; pela fidelidade contínua e orante de Ana, profetiza de idade avançada; mas, sobretudo, pela absoluta e total disponibilidade da Virgem Santíssima, protagonista, juntamente com o Filho, deste mistério de salvação, que orienta o episódio da Apresentação no Templo para o acontecimento salvífico da Cruz. "A própria Igreja — escreveu Paulo VI —  entreviu no coração da Virgem Maria, que leva o Filho a Jerusalém para O oferecer ao Senhor, uma vontade oblativa, que "transcendia o sentido ordinário do rito" (Marialis Cultus, 20).

Também vós, Irmãos e Irmãs caríssimos, deveis sempre conservar intacta aquela "vontade oblativa", com a qual respondestes generosamente ao convite de Jesus a segui-l'O mais de perto, no caminho para o Calvário, mediante os sagrados vínculos, que a Ele vos unem de maneira, singular na castidade, na pobreza e na obediência: estes votos constituem uma síntese, em que o próprio Cristo deseja exprimir-Se, ao delinear — através da vossa resposta— uma luta decisiva contra o espírito deste mundo. A castidade, abraçada pelo reino dos céus (cf. Mt 1, 12), torna, livre de maneira especial o coração da pessoa (cf. 1 Cor 7, 32 ss.), a ponto de inflamá-la sempre de maior caridade para com Deus e para com os irmãos; a pobreza, voluntariamente abraçada para se colocar no seguimento de Cristo, faz que se participe naquela pobreza de Cristo, o qual, sendo rico, se fez pobre por amor de nós, a fim de que nos enriquecêssemos com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9; Mt 8, 20); a obediência, mediante a qual se oferece a Deus a completa consagração da própria vontade como sacrifício de si próprio, e por ele se une vontade salvífica, de Deus (cf. Decr. Perfectae Caritatis, 12-14 )

Mas precisamente por esta escolha tão radical, tomastes-vos, como Cristo e como Maria, una "sinal de contradição", isto é um sinal de divisão, de ruptura e de contraste nos confrontos do espírito do mundo que põe a finalidade e a felicidade do homem na riqueza, no prazer e na auto-afirmação da própria personalidade.

6. Hoje, ao comunicarmos e compartilharmos reciprocamente a "luz", que brilha dos círios, pensemos em todos os Religiosos e as Religiosas, espalhados no mundo, peçamos intensamente por eles, para que, onde quer que se encontrem e trabalhem, brilhem verdadeiramente com aquela luz, que é o Cristo, e sejam sempre um sinal autêntico do seu Evangelho e do seu Espírito!

Que todos os Religiosos e as Religiosas saibam oferecer-se juntamente com Cristo, como uma chama que se consome no amor! Que vivam d'Ele e para Ele, na Igreja e para a Igreja! E Maria Santíssima os leve a esta sempre maior intimidade com o seu Filho, precedendo-os no caminho da oblação e da doação! Maria seja sempre o vosso exemplo, o vosso modelo, a vossa força, caríssimos Irmãos e Irmãs! "Esta Mulher — como disse em outra ocasião —torna-se também, associada com o seu Filho, sinal de contradição para o mundo, e, ao mesmo tempo, sinal de esperança. Esta Mulher, que espiritualmente concebeu antes de fisicamente conceber; esta Mulher, que foi inserida inteira e irrevogavelmente no mistério da Igreja, e exerce uma maternidade espiritual quanto a todas as gentes... Esta Mulher... é a expressão máxima de consagração total a Jesus Cristo" (Discurso às Religiosas, Washington, 7 de Outubro de 1979).

São os meus votos e a minha bênção.


Amém.

domingo, 25 de janeiro de 2015

18/01/2015 - Viagem ao Sri Lanka e Filipinas. Papa Francisco.

SANTA MISSA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Rizal Park, Manila
Domingo, 18 de Janeiro de 2015

«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9, 5). Sinto uma alegria particular por celebrar convosco o domingo do «Santo Niño». A imagem do Santo Menino Jesus acompanhou a difusão do Evangelho neste país desde o início. Vestido com os trajes reais, coroado e ornado com o ceptro, o globo e a cruz, recorda-nos continuamente a ligação entre o Reino de Deus e o mistério da infância espiritual. Disto mesmo nos fala Ele no Evangelho de hoje: «Quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele» (Mc 10, 15). O «Santo Niño» continua a anunciar-nos que a luz da graça de Deus brilhou sobre um mundo que habitava nas trevas, trazendo a Boa-Nova da nossa libertação da escravidão e guiando-nos pela senda da paz, do direito e da justiça. Além disso, recorda-nos que fomos chamados para espalhar o Reino de Cristo no mundo.

Ao longo da minha visita, ouvi-vos cantar: «Somos todos filhos de Deus». Isto é o que o «Santo Niño» nos vem dizer. Recorda-nos a nossa identidade mais profunda. Todos nós somos filhos de Deus, membros da família de Deus. São Paulo disse-nos hoje que, em Cristo, nos tornamos filhos adoptivos de Deus, irmãos e irmãs em Cristo. Isto é o que nós somos. Esta é a nossa identidade. Vimos uma belíssima expressão disto, quando os filipinos se uniram em torno dos nossos irmãos e irmãs atingidos pelo tufão.

O Apóstolo diz-nos que fomos abundantemente abençoados porque Deus nos escolheu: «no alto do Céu [Ele] nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo» (Ef 1, 3). Estas palavras têm uma ressonância especial nas Filipinas, porque é o maior país católico na Ásia. E isto é já um dom especial de Deus, uma bênção especial; mas é também uma vocação: os filipinos estão chamados a ser exímios missionários da fé na Ásia.

Deus escolheu-nos e abençoou-nos com uma finalidade: ser santos e irrepreensíveis na sua presença (cf. Ef 1, 4). Escolheu cada um de nós para ser testemunha, neste mundo, da sua verdade e da sua justiça. Criou o mundo como um jardim esplêndido e pediu-nos para cuidar dele. Todavia, com o pecado, o homem desfigurou aquela beleza natural; pelo pecado, o homem destruiu também a unidade e a beleza da nossa família humana, criando estruturas sociais que perpetuam a pobreza, a ignorância e a corrupção.

Às vezes, vendo os problemas, as dificuldades e as injustiças, somos tentados a desistir. Quase parece que as promessas do Evangelho não são realizáveis, são irreais. Mas a Bíblia diz-nos que a grande ameaça ao plano de Deus a nosso respeito é, e sempre foi, a mentira. O diabo é o pai da mentira. Muitas vezes, ele esconde as suas insídias por detrás da aparência da sofisticação, do fascínio de ser «moderno», de ser «como todos os outros». Distrai-nos com a vista de prazeres efémeros e passatempos superficiais. Desta forma, desperdiçamos os dons recebidos de Deus, entretendo-nos com apetrechos fúteis; gastamos o nosso dinheiro em jogos de azar e na bebida; fechamo-nos em nós mesmos. Esquecemos de nos centrar nas coisas que realmente contam. Esquecemo-nos de permanecer interiormente como crianças. Isto é pecado: esquecer-se, no próprio coração, de que somos crianças de Deus. Na realidade, estas – como nos ensina o Senhor – têm uma sabedoria própria, que não é a sabedoria do mundo. É por isso que a mensagem do «Santo Niño» é tão importante. Fala profundamente a cada um de nós; recorda-nos a nossa identidade mais profunda, aquilo que somos chamados a ser como família de Deus.

O «Santo Niño» recorda-nos também que esta identidade deve ser protegida. Cristo Menino é o protector deste grande país. Quando Ele veio ao nosso mundo, a sua própria vida esteve ameaçada por um rei corrupto. O próprio Jesus viu-Se na necessidade de ser protegido. Ele teve um protector na terra: São José. Teve uma família aqui na terra: a Sagrada Família de Nazaré. Desta forma, recorda-nos a importância de proteger as nossas famílias e a família mais ampla que é a Igreja, a família de Deus, e o mundo, a nossa família humana. Hoje, infelizmente, a família tem necessidade de ser protegida de ataques insidiosos e programas contrários a tudo o que nós consideramos de mais verdadeiro e sagrado, tudo o que há de mais nobre e belo na nossa cultura.

No Evangelho, Jesus acolhe as crianças, abraça-as e abençoa-as. Também nós temos o dever de proteger, guiar e encorajar os nossos jovens, ajudando-os a construir uma sociedade digna do seu grande património espiritual e cultural. Especificamente, temos necessidade de ver cada criança como um dom que deve ser acolhido, amado e protegido. E devemos cuidar dos jovens, não permitindo que lhes seja roubada a esperança e sejam condenados a viver pela estrada.

Uma criança frágil trouxe ao mundo a bondade de Deus, a misericórdia e a justiça. Resistiu à desonestidade e à corrupção, que são a herança do pecado, e triunfou sobre elas com o poder da cruz. Agora, no final da minha visita às Filipinas, entrego-vos a Jesus que veio estar entre nós como criança. Que Ele torne todo o amado povo deste país capaz de trabalhar unido, de se proteger mutuamente a começar pelas vossas famílias e comunidades, na construção dum mundo de justiça, integridade e paz. O «Santo Niño» continue a abençoar as Filipinas e a sustentar os cristãos desta grande nação na sua vocação de ser testemunhas e missionários da alegria do Evangelho, na Ásia e no mundo inteiro.


Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Deus vos abençoe!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Liberdade e igualdade.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Estou participando pela sétima vez, a convite, de um Congresso internacional para Bispos, de 22 a 25 de janeiro, nos Estados Unidos, promovido pelo Acton Institute, instituição universitária voltada para estudos de economia e sociologia à luz da Doutrina social da Igreja. O congresso deste ano tem como tema “Para uma livre, justa e humana economia global”. A presença de cerca de 70 Bispos, de mais de vinte países, mostra a universalidade do congresso e a múltipla representação da Igreja. 

A primeira palestra, do Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Munique e Frisinga, Alemanha, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da EU, versou sobre “Por que a Economia requer ética – por uma Liberdade Responsável”.  De basilar importância nesses tempos de corrupção generalizada. Vale recordar o Papa Francisco: “A crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. ...Reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo” (Evangelii Gaudium, 55).
        Muito interessante foi a palestra de Dr. Samuel Gregg, doutor em Filosofia da Universidade de Oxford e autor de vários livros, que versou sobre “A Desigualdade Econômica: Mitos e Realidades”.

Falou sobre “População, Economia e os novos desafios demográficos”, a Dra. Carrol Rios de Rodríguez e discorrendo sobre “Dignidade Humana e suas falsidades: defendendo a verdadeira Liberdade e a verdadeira Igualdade”, o Dr. Michael Matheson Miller, graduado em várias universidades e pesquisador em países da Europa, Ásia e África, falou sobre diferentes aspectos da igualdade e dignidade humana, sob o ponto de vista cristão.

Dom Dominique Rey, bispo da Diocese de Fréjus-Toulon, França, tratou da “Igreja, Ecologia e Ambiente”. O evento termina com a exposição final do Pe. Robert Sirico, co-fundador e diretor do Acton, sobre  “a Igreja, o Estado e a Justiça Social”, abordando os valores cristãos como solução para todos os problemas atuais, morais, sociais, políticos e econômicos.


Sobre a igualdade, a Igreja nos ensina que “a igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos têm a mesma natureza e origem” (Gaudium et Spes, 29). “Cada um deve, pois, ter a sua parte nos bens materiais; e deve procurar-se que a sua repartição seja pautada pelas normas do bem comum e da justiça social. Hoje, porém, à vista do clamoroso contraste entre o pequeno número dos ultra-ricos e a multidão inumerável dos pobres, não há homem prudente que não reconheça os gravíssimos inconvenientes da atual repartição da riqueza” (Pio XI,Quadragesimo Anno, 58).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Brasil está agonizando na UTI.


Por Paulo Henrique Cremoneze.

O agronegócio (agricultura e pecuária) pede socorro e só o governo não enxerga: uma das poucas coisas com ares de primeiro mundo no Brasil também se mostra moribunda e a vergonha terceiro-mundista escancara sua boca desdentada, exalando o hálito da desgraça.

- OBS: amigos, um texto longo, mas escrito com convicção e que expõe uma realidade concreta do país. Alarmante! Deixo, com tristeza, o recado.

A saber:

Não se trata de uma opinião baseada na ideologia e no repúdio ao atual grupo que governa o país; não, escrevo com a legitimidade de quem tem fontes absolutamente confiáveis.

Quem me acompanha nas redes sociais há algum tempo sabe que desde o fim do segundo governo Lula venho alertando sobre o colapso da economia brasileira.

Os sinais são claros: brasileiros ricos estão se mudando para os EUA; o Plano Real foi desfigurado pelos governos do PT; a infraestrutura do país não melhorou nos últimos anos e a criminalidade é a mais elevada da história, a começar pelos membros do próprio governo federal.

Mas, neste momento, trago notícia fidedigna e assustadora.

A família de um dos meus sócios tem fazendas em Goiás.

Ele voltou de lá agora e me disse que muitos grandes fazendeiros estão assustados.

Eles temem o fortalecimento dos grupos criminosos de invasores de terra. O MST é um flagelo que inibe os investimentos nos negócios rurais.

A falta de energia, a falta d´água e a péssima infraestrutura geral prejudicam os negócios, atravancam as produções e elevam demasiadamente os custos.

Muitos agricultores e pecuaristas da região - uma das mais ricas e poderosas do país - estão se mudando aos poucos para os EUA e para a Austrália.

Algumas fazendas estão trabalhando com prejuízos consideráveis.

Os tributos aumentam, os encargos elevam-se, mas os benefícios enxugam-se.

A situação é, literalmente, aflitiva.

Vale lembrar que o suposto sucesso econômico brasileiro só foi em parte possível graças aos agronegócios.

A agricultura e a pecuária brasileira foram decisivas, depois do magnífico Plano Real, para um crescimento e uma sensação de bonança, já deixados de lado e desperdiçados pelos governos do PT.

Insisto: eu comento com base na realidade e nas informações fiéis, vindas de quem pode falar, com conhecimento de causa.

Não nego que um lado meu até gosta disso tudo. Sinto certa vaidade por ter, anos atrás, enxergado o quadro presente. Além disso, só um caos total poderá se sobrepor ao populismo manipulador e despudorado do grupo que governa o país e ensejar a mudança tão desejada e que ano passado bateu na trave.

Mas, outro lado meu sente tristeza, compaixão e vergonha. Eu me preparei esses anos para um quadro de crise total. Sofrerei pouco e até poderei haurir benefícios, afinal quem está preparado enfrenta com altivez os tempos difíceis. Mas, e a parte mais fraca do povo brasileiro? Justamente a parte que se deixou enganar e seduzir pelas esmolas oficiais e pela parolagem socialista, sempre venenosa e eivada de mentiras?

Dizer "bem-feito" e "o povo colherá o que plantou" não é algo bonito, digno e respeitável. Eu luto intimamente todos os dias contra o egoísmo e contra o pedantismo, seja ele social, seja cultural, por isso meu sentimento de dor é maior do que a satisfação de constatar a certeza da opinião recorrente e o provável fim de uma era inglória.

O problema é que o PT cairá, mas levará consigo todo um país e cerca de 200 milhões de habitantes, incluindo os que não votaram nele e os que foram manipulados e enganados.

Quanto aos petistas do alto escalão e seus aliados, para eles tanto faz a situação do país, pois o butim do Erário já os proveu de gordas fatias de riqueza, as mesmas fatias que faltam da saúde, na educação e na segurança deste país tão terceiro-mundista que está condenado à boiar sobre as águas do Atlântico por muitos e muitos anos ainda.

Quando o agronegócio de um país como o Brasil dá sinais de perda de vitalidade, a coisa está mesmo muito, mas muito feia. Afinal, era um dos poucos setores que o brasileiro podia sentir orgulho.


O PT, está mais do que nunca, é uma praga que destruiu as lavouras do Brasil. Nem poderia ser diferente: onde o socialismo põe a mão, as trevas encobrem a luz.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Nem Charlie, nem Al Qaeda.


Por Denilson Cardoso de Araújo

Em 1998, vendo no que ia dar, me afastei do PT. Interessa aqui a minha frase de então. Não quero ser refém do Lula. Não sou. Ao contrário de tantos que seguem reféns, defendendo o indefensável, quando escrevo sobre a derrocada do sonho, é tranquilo que o faço. Ser refém é ruim. Conheço famílias reféns. De filhos pródigos, porque não agiram a tempo de evitar o desabamento no vício e na ilicitude. E reféns de abusadores de liberdades, pois permitiram o intolerável. Doutrinador da tolerância, Stuart Mill ensinou que só deve ser permitida publicamente a prática daquilo que pode ser incentivado a todos. Pode ser estimulado o abuso?

Pode um ocidental, frente à principal mesquita de um país islâmico, onde a mera reprodução pictórica de Maomé é vedada, fazer chacota com o fundador do Islã? E, na piada, exibir o profeta em cartum da Charlie Hebdo: nu, de quatro e com uma estrela no ânus sob jocosa inscrição “Nasce uma estrela”? A livre expressão pode tudo? Não.

Empresário em missão estrangeira sabe. Calará sobre costumes estranhos, sob pena de fracasso dos negócios. Missionários e antropólogos, em respeito aos valores dos povos que vão converter e estudar, nem sempre dirão o que pensam. Embaixadores, acatando a diversidade dos países em que atuam, deverão engolir sapos. Até o turista deverá silêncio quando discordar de tradições dos países que visita.

A globalização fez do planeta grande praça à frente de toda igreja, casa e mesquita. Discursos e caricaturas são conhecidos ao toque do instante. O que exige maior cuidado. Da imigração, países europeus são, hoje, também muçulmanos. A leviandade de se permitir agressões a símbolos cristãos, não obriga a que todo mundo leve na boa o achincalhe da fé que cultivam. Claro que não se pode justificar estuprador porque a moça usava short cavado. Mas prudente será que, em surtos de estupro, moças de shorts cavados evitem certos lugares. Cautela do bom senso.

Muitos, que não observam cautelas, são hoje reféns da frase oportunista: Je suis Charlie. Feita para condenar o terror, dá apoio à revista. Estou fora. Não sou Al Qaeda, não sou Charlie. Nem acho lícito que o esforço de todos sustente o abuso de alguns. Garantir, à custa do Erário, que sigam desenhando Deus Pai, Cristo e o Espírito Santo se sodomizando, em vilipendiosa brincadeira, me parece contrassenso. Custear policiais como guarda pessoal de tal minoria boêmia pode roubar dos miseráveis sem champanhe e sem direitos de expressão, mais dos serviços, saúde e educação que lhes faltam.

Em nome da livre manifestação, na passagem do Papa no Rio, militantes gays e abortistas reproduziram masturbação com o crucifixo. Que, vale lembrar, um dia foi cena da menina possuída pelo demônio, no filme O Exorcista. Algo não vai bem quando esse abuso ocorre onde já se estabeleceu que o direito de livre expressão não é absoluto. O Brasil proíbe a propaganda nazista e a divulgação de certos discursos a plateias infantis, impondo classificação etária de produtos culturais. O chute na santa é vedado porque o que para uns é só estátua pode ser o sagrado de outro. Para muitos, o crucifixo é símbolo sagrado.

A França está ficando tão refém do seu discurso de liberdade de expressão radical, quanto os Estados Unidos, de seu discurso de liberdade de portar armas. Quando massacres acontecem nas escolas de um e nas redações de outro, parece uma ingenuidade não revisar tais conceitos.


A liberdade de expressão é boa herança, mas seu abuso, absolutamente, não. O Charlie Hebdo opera uma pedagogia do escândalo e do bullying. Que não seja modelo. Quem conhece a guerra do dia a dia em nossas escolas sabe do que estou falando.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Eclesiologia protestante


Por Carlos Ramalhete.

O principal erro do protestantismo não é o Sola Scriptura; este é a caixa de Pandora, e só isso. O que, porém, levou Lutero a abrir esta caixa? Um erro de eclesiologia. A eclesiologia protestante está de cabeça para baixo, e é isso que os leva a aceitar algo tão irracional quanto "acreditar só na Bíblia" quando a própria Bíblia diz que não é para "acreditar só na Bíblia" (e isso se deixarmos de lado outras coisas importantes, como o fato de não haver nenhum cânone definido no próprio texto inspirado, o que já faz do cânone bíblico algo extra-bíblico...).

Vejamos então um pouco de eclesiologia.

O que é comunhão? É a participação no Corpo de Cristo. Todos nós, batizados, somos enxertados no Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja. Nosso Senhor é Cabeça da Igreja, e a alma da Igreja (ou seja, sua forma, aquilo que lhe dá coerência) é o Espírito Santo. Assim como um corpo sem alma não é uma pessoa, uma reunião de pessoas sem a união e a coerência que são dadas pela alma, que é o Espírito Santo, não é uma Igreja.

O protestante, porém, não entende que o Espírito Santo seja a alma da Igreja. Ele O vê como uma espécie de "assistente pessoal", como uma espécie de garantia pessoal de infalibidade dada a cada protestante. É por isso que ele não aceita a Comunhão dos Santos.

Assim, nada mais natural para ele que considerar que quando se junta trezentos "crentes" em uma sala duas vezes por semana se tenha uma "Igreja". Não há união nenhuma entre eles, senão o fato de estarem todos no mesmo lugar, ao mesmo tempo, fazendo a mesma coisa. Para eles, o Espírito Santo não dá uma coerência, uma união indissolúvel na unidade do Corpo de Cristo.

É por isso que é tão comum vermos em seitas protestantes a citação bíblica (presente nas fachadas de muitas seitas) que afirma que "Jesus Cristo é o Senhor". Isto ocorre porque na Sagrada Escritura S. João nos ensina que só no Espírito Santo podemos dizer isso. O que significa o que escreve S. João? Que só na Igreja, ou seja, só sendo enxertados neste Corpo Místico de Cristo e sendo animados (tendo como alma da Igreja, tendo como forma - ou princípio de coerência - da Igreja) pelo Espírito Santo podemos dizer isso. De nada vale dizer que Ele é o Senhor quando se está fora da Igreja. Será o mesmo que dizer bu-bu-bu ou bó-bó-bó, e valerá um dia um belo "apartai-vos de Mim, malditos, pois não os conheço".

Faltando-lhes, assim, a noção mais básica da Igreja como Corpo uno e indivisível de Cristo, que é o sentido da comunhão (somos irmãos em Cristo pelo batismo, não por estarmos ao lado um do outro em um banco de igreja; o que nos une é Cristo. É isso que faz ser péssimo dar as mãos no Pai-Nosso, por exemplo, passando assim um sinal trocado de que a nossa união é direta entre um e outro, e não através do Cristo), eles tendem a chamar de "comunhão" o mero irenismo, o mero coleguismo (frequentemente hipócrita, pois é necessário um esforço consciente em evitar quaisquer questões mais espinhudas - e isso inclui até mesmo a eficácia do batismo! - para que dois "crentes" de seitas diferentes, ou até de cultos em horários diferentes na mesma seita, não comecem a debater sem possibilidade de chegar a uma definição de quem está certo).

É o mesmíssimo mecanismo que os leva a chamar trezentas pessoas com crenças diferentes, desunidas em tudo que não na presença física regular no mesmo lugar e horário e no apego a algumas fórmulas dogmáticas (cujo sentido é diferente para cada um), de "Igreja". Se isso é "Igreja", o que faz e mantém a "Igreja"? A Graça? Os Sacramentos? A Santidade? O Espírito Santo?

Claro que não. O que impede que soçobre esta união acidental (radicalmente diferente da união substancial dos cristãos no Corpo Místico de Cristo - os protestantes unem-se pelo acidente da localização, enquanto os cristãos unem-se na substância da Igreja, de que somos a matéria e o Espírito Santo é a forma) é apenas o bom-mocismo, a fuga das questões difíceis, o empenho em ser um "xuxuzinho" para todos os outros. Se o "crente" Zeca briga com o "crente" Joca, acabou a "comunhão". Se Zeca e Joca levam a briga deles mais além e as pessoas se dividem entre pró-Zequistas e pró-Zoquistas, acabou a "Igreja".

É por isso que a Igreja nos ensina que não podemos chamar estas seitas de "Igrejas"; elas não o são.

A Igreja é uma só e é visível, e é a Igreja Católica. Nós não "fazemos Igreja", mas somos nela enxertados. Somos a matéria que recebe sua coerência pelo Espírito Santo e passa a constituir uma união substancial, um ente, que é a Igreja, o Corpo Místico de Cristo, a Igreja. Nossas brigas - ao contrário do que ocorre entre os protestantes - não são fator de divisão, mas de união. O que nos une não é estarmos bem um com o outro, mas nos deixarmos ser animados pelo Espírito Santo, nos apegarmos à Verdade. Se não brigarmos, se não discutirmos, seria como uma Aids no Corpo Místico de Cristo, o que é inimaginável. O erro, a mentira,m tudo isso é inimigo do Corpo de Cristo. Isto é como um vírus ou uma bactéria, que depende dos anticorpos para ser expelido. Ele precisa, porém, ser reconhecido pelo sistema imunológico para que possa ser expelido.

Estas brigas são exatamente isso: um reconhecimento do erro para que ele possa ser expelido. Se eu sento o tacape nos blasfemos que batem palmas na Missa (a Missa é o Calvário, e só quem bateu palma no Calvário foram os judeus e os romanos...), estou sinalizando um inimigo do Corpo de Cristo que está tomando algumas de Suas "células", que somos nós. Precisamos salvar estas células e expelir o inimigo. Depois que as células mais próximas do invasor o detectaram, elas mandarão um aviso para o cérebro, que pode - ou não - tomar conhecimento disso. Nós não reparamos na imensa maioria das invasões bacterianas e viróticas que nosso corpo enfrenta. Algumas nos chegam ao conhecimento, e dizemos "estou gripado, preciso me tratar". Isto é uma definição magisterial. Antes que ela surja, porém, é extremamente necessário que o inimigo tenha sido apontado e combatido, pois ela só surgirá quando a crise for realmente gravíssima. Assim como para as células próximas a uma pequena ferida que está inflamada a crise parece grave, mas o cérebro nem se dá conta do que está acontecendo até que a dor aumente muito, nós que estamos próximos às crises devemos agir de maneira forte, mesmo que o cérebro ainda não se tenha dado conta. Se agirmos eficientemente, o cérebro jamais se dará conta. Nosso Senhor prometeu que a Igreja não seria vencida, mas não que não perderia membros por gangrena (como ocorreu tantas vezes; basta ver o Norte da África, antes terra cristã).

Para o protestante isso seria inimaginável, pois o mais natural seria que os batedores de palmas fizessem uma outra "Igreja", onde todos batem palmas o tempo todo. O fator da "comunhão" desta "Igreja" seria justamente o ânimo de aplaudir a torto e a direito. Não há fator de unidade que não o acidental, não há sentido algum em permanecer na mesma "Igreja" se há brigas lá. Isso ocorre porque eles não percebem que a Igreja não é feita por homens (como o corpo humano não é feito por células: se juntarmos milhões de células não teremos um corpo humano, mas um embrião com duas células já é um corpo humano por ter uma alma, ter algo que não é sua matéria e lhe dá sua coerência), e não percebem os inimigos da igreja como realmente inimigos. Para eles, a divisão - que para nós seria a horrenda perda de um membro da Igreja, pois quem se separa do Corpo não é mais Corpo, como uma mão amputada não é mais a mão de alguém e sim um monte de carne e ossos a caminho da putrefação - é uma solução, uma maneira de fazer com que ainda haja "comunhão" (entendida como companheirismo, amizade humana e natural, etc.).

Assim eles têm esses pedaços de carne putrefata dominados por bactérias X e outros dominados por bactérias Y, e são justamente as bactérias que eles vêem como os elos de união interna, como a coerência interna daqueles pedaços de carne putrefata. Todas as seitas juntas aceitam algumas frases-chavão (Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia...), com cada uma delas entendendo estas frases de modo completamente diferente, como se as colônias de bactérias nos pedaços de carne estivessem em acordo em dizer que é bom devorar carne, e só. Uma transforma a carne em nitrogênio e a outra em metano, mas ambas chamam a transformação que efetuam de "devorar carne".


Pudera que quem pensa assim fique horrorizado ao ver a ação dos anticorpos no Corpo vivo, e confunda a bronca de São Paulo nos que pregavam a união natural como superior à união em Cristo (ou seja, estar ligado a Apolo ou a Paulo, e não a Cristo; ter uma "comunhão" de companheirismo com Apolo ou Paulo como mais importante que ter a mesma única Fé e o mesmo único batismo no mesmo único Senhor, fazendo assim parte do mesmo único Corpo Místico de Cristo) com o seu oposto: uma bronca nos que - como S. Paulo - brigam contra a infiltração do erro para que a Verdade pristina sempre prevaleça.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos.


Por André Brandalise

“2. (…) Mas para um cristão, consciente da sua responsabilidade também perante o mais pequeno de seus irmãos, não há tranqüilidade preguiçosa, nem há lugar à fuga; (…)
57. (…) Vós, cruzados voluntários de uma nova e nobre sociedade, erguei o novo lábaro da redenção moral e cristã, declarai luta às trevas da apostasia de Deus, à frialdade da discórdia fraterna; lutai em nome de uma humanidade gravemente enferma e que é preciso curar em nome da consciência levantada pelo cristianismo.”
(Papa Pio XII, radiomensagem do Natal de 1942)


Finalmente chegamos ao final da trilogia de O Hobbit (leu nossos textos anteriores? O Hobbit – Uma Jornada Inesperada e O Hobbit: A Desolação de Smaug).

Sinopse: Terceira parte – e última – do prequel da famosa trilogia O Senhor dos Anéis. A história, ambientada 60 anos antes da saga do Anel, mostra a inesperada aventura de Bilbo Bolseiro, tio do jovem Frodo, ao lado do mago Gandalf, do anão Thorin Escudo de Carvalho e seus 13 companheiros, no resgate de um tesouro da família de Thorin, que foi roubado pelo temido dragão Smaug.

O título do filme já nos leva ao grande momento da trilogia (muito embora a visão do dragão Smaug no segundo filme seja excepcional) em que poderemos ver exércitos de homens, elfos e anões juntos. Em “O Senhor dos Anéis” tivemos a união destas raças, mas não vimos os exércitos atuando em conjunto.

Somos jogados em uma produção de fantasia em que anões montam bodes, Thranduil (o grande rei élfico) monta um alce com chifres gigantes, isso sem falar em elfos, anões, orcs, etc.. Diante de filmes que buscam ser cada vez mais reais (mesmo os de super-heróis), é ótimo ver uma autêntica fantasia para encher nossos olhos. Mesmo assim existem grandes lições que podemos tirar.

No mundo criado por JRR Tolkien, desde a criação existe a rivalidade entre elfos e anões, e aos homens (que são os seres mais fracos entre eles) resta ter que administrar esta disputa. Em alguns momentos apoiarão os elfos, em outros apoiarão os anões, mas todas as vezes que foi necessário as três raças uniram-se para enfrentar o grande mal que ameaça matar o bem.

Neste filme vimos tudo isso e somos jogados em uma grande batalha em que não há espaço para se esconder ou ficar para proteger seus tesouros. É uma batalha de vida ou morte e quem não a toma para si assume um tipo de morte. Nós vivemos esta batalha todos os dias, a cada momento em que somos convocados a assumir a Cristo. É o bom combate a ser combatido, ainda mais em um mundo que busca afastar Deus.

A batalha nos trará novos amigos, mas ao mesmo tempo perderemos outros. Conseguiremos ultrapassar desafios, e quando formos jogados ao chão teremos sempre alguém para nos ajudar a levantar, como um apoio providencial. Em alguns momentos seremos forçados a fazer sacrifícios por nós e por outros, isso sem esperar recompensa. Não serão decisões fáceis, mas com certeza serão decisões necessárias para aqueles que almejam mais em suas vidas.


Que ao assistir este filme possamos deixar nossa teimosia de anão, nosso orgulho de elfo e ganância de homem de lado, para buscarmos a sabedoria dos magos (seres angelicais – vejam o texto sobre o filme O Hobbit – Uma Jornada Inesperada) e a simplicidade dos hobbits para enfrentar a maior batalha de todos os tempos … a batalha pela vida eterna.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Santo Amaro.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


Santo Amaro – cuja festa celebraremos no próximo dia 15 – é objeto de grande devoção em nossa região devido à presença dos monges beneditinos que foram os valorosos missionários da zona rural de Campos dos Goytacazes, em cujo município se situa o célebre Mosteiro de São Bento, em Mussurepe. Por isso, vale a pena recordar um pouco a sua vida, por muitos desconhecida.

Santo Amaro, ou São Mauro, foi monge e abade beneditino, ou seja, da Ordem de São Bento. Nascido em Roma, de família senatorial, Amaro, quando tinha apenas doze anos, foi entregue no mosteiro por seu pai, Egrico, homem ilustre pela virtude e pela nobreza do nascimento, confiando-o aos cuidados de São Bento, em 522.

Correspondeu tão bem à afeição e à solicitude do mestre que foi em breve proposto como modelo aos outros religiosos. São Gregório exaltou-o por se ter distinguido no amor da oração e do silêncio. Sempre se lhe notou profunda humildade e admirável simplicidade de coração. Mas nele sobressaia a virtude da obediência, sendo por isso recompensado por Deus, com o milagre semelhante ao de São Pedro no lago de Tiberíades, caminhando sobre as águas. Foi o caso de um jovem chamado Plácido, que caiu num lago perto de Subiaco, onde ficava o mosteiro. São Bento soube-o por revelação e, chamando Amaro, disse-lhe: “Irmão Amaro, vai depressa procurar Plácido, que está prestes a se afogar”. Munido com a bênção do mestre, o discípulo correu sobre a água a socorrer Plácido, a quem agarrou pelos cabelos e trouxe para a margem, não se apercebendo Amaro ter saído da terra firme. Quando deu pelo milagre, atribuiu-o aos méritos de São Bento. Mas este o atribuiu à obediência do discípulo.

“O homem obediente contará vitórias” (Pr 21,28). A obediência é a virtude cristã pela qual a pessoa sujeita sua própria vontade à de seu superior, no qual vê um representante de Deus. O maior exemplo de obediência temos em Jesus Cristo, obediente até a morte de Cruz (Fl 2, 8), reparando assim a desobediência de Adão (Rm 5, 19-20). Assim, o conselho evangélico da obediência, professado na vida consagrada, assumido livremente com espírito de fé e amor no seguimento de Cristo obediente até a morte, leva o consagrado à submissão da vontade aos legítimos superiores, que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as próprias constituições (cf. CDC cân. 601).

Santo Amaro foi fiel ao seu ideal monástico, a ponto de todos o considerarem o perfeito herdeiro espiritual de São Bento. Segundo uma tradição, foi Santo Amaro que substituiu São Bento quando este se transferiu para Monte Cassino. Consta também que Santo Amaro se distinguiu particularmente por sua aplicação aos estudos. Sendo enviado à França, lá fundou o Mosteiro de Glanfeuil, em Anjou, vindo a falecer em 15 de janeiro de 584.


Possa o exemplo de Santo Amaro levar os filhos a serem mais obedientes aos seus pais, os alunos aos seus mestres, os cidadãos às leis e superiores civis, os católicos aos seus superiores hierárquicos. “Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5, 21).

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Afinal de contas: o que vem a ser indulgência?


Por Emanuel Jr.

Essa minha pergunta não é muito comum, como bem sabemos, nas escolas de ensino fundamental e médio de nosso país. Os professores de história (ou estória você escolhe) fazem questão de fazer uma confusão generalizada quanto ao termo. Na verdade eu até hoje não entendi se fazem isso por absoluta má-fé ou porque na verdade não tem a mínima ideia mesmo e na falta de conhecimento é melhor atacar a Igreja e pronto.

Agora me digam uma coisa: se no ensino fundamental e médio não ensinam o que significa indulgência será que na faculdade ensinam? Prefiro não comentar...


Vamos aos fatos. É muito mais fácil dizer e repetir indefinidamente que a Igreja vendeu indulgências e levar todo mundo a erro deixando no ar, ou bem claro, que isso era o mesmo que o perdão dos pecados. A lógica é fazer o seguinte caminho: a Igreja vende o perdão de Deus e lucra com isso. É o mesmo que vender lotes no céu. A verdade é que está tudo errado. Esqueçam, apaguem isso tudo da cabeça porque nada disso tem valor por um simples fato: mentiram pra você.

O Catecismo da Igreja Católica esclarece sobre as Indulgências que podem ser alcançadas:

§1479 - Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los obtendo para eles indulgências, para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.

Me digam uma coisa: “libertação da penas temporais devidas pelos seus pecados” é o mesmo que perdão dos pecados? Ponham a mão na consciência e debrucem sobre seus alfarrábios. Claro que não!

Vamos continuar no mesmo Catecismo porque ele fala muito melhor do que esse ínfimo interlocutor:

§1498 - Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, seqüelas dos pecados.

Oh céus!!! Então quer dizer que pode-se até obter indulgências para quem já morreu? Sim. E para não falar que minha opinião não vale nada, como já disseram esses dias em um site desses por ai, vamos ver o que o Papa Paulo VI fala sobre o assunto:

"Indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos" (Paulo VI, Const. Apost., Indulgentiarum doctrina, 2)

Acho que ficou bem claro que o pecado já está perdoado quando se é aplicada a indulgência ,não é? Pois bem, se já está perdoado então quer dizer que não é o perdão e se não é o perdão então não tem como a Igreja vender ou ter vendido o perdão de Deus, que é gratuito. Aliás gratuito não, a moeda é o arrependimento acompanhado de confissão ou o batismo, claro!

Como parece não ter ficado muito claro, vamos desenhar. A cada pecado, dois efeitos aparecem: a culpa (ou pena eterna), e a pena temporal. Exemplificando temos que um criminoso atinge a vítima e também a sociedade através do seu delito. Pela violação da ordem social advindo do crime que cometeu, o criminoso cumpre uma pena que a Instituição Estado impõe. Transportando: o pecador comete o pecado (crime contra Deus) e recebe uma pena (penitência) da Igreja (Instituição Divina) para que seu erro seja sanado. Voltando ao criminoso, já em relação à vítima direta de sua ação criminosa, deve, além da pena (prisão, por exemplo) a ser cumprida conforme o Direito, indenizar pelos danos que aquela pessoa em particular sofreu. Essa indenização é a pena temporal que gera a indulgência no caso da Igreja.

Ao pecar, ofendemos a Deus e essa ofensa gera uma desordem a ser reparada. Essa ofensa corresponde à culpa, à pena eterna, e a tal desordem à pena temporal. Por esse motivo é que o sacerdote nos dá uma penitência a ser cumprida. Não se trata de “pagar” pelos pecados, pois Cristo já o fez. Nem condição para o perdão. A penitência imposta serve, na verdade, para reparar as consequências do pecado já perdoado na confissão. Não rezamos “três ave-marias”, por exemplo, para que o pecado seja perdoado, porém para reparar a pena temporal unida à pena eterna do pecado cometido, esta última perdoada pelo sangue de Jesus na absolvição sacerdotal.


O perdão, portanto já existe. A pena temporal é que é "paga". Séculos atrás era comum pessoas de muita posse pagar essas penas com valores altíssimos em dinheiro ou em terras ou em ouro ou qualquer outro bem material. Trata-se de costume e, muitas vezes de vontade, porque, queiram os catolicofóbicos ou não, a grande maioria entregava riquezas à Igreja por livre e espontânea vontade.