quarta-feira, 22 de julho de 2015

Um mundo onde não cabem nem “Bergoglios” e nem “Ratzingers”.


Por Felipe de Oliveira Ramos

"Tu és Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam"

O discurso contemporâneo tenta colocar a figura de Jesus Cristo como figura subversiva que, atualizada a nossos tempos, acabaria por ser a favor de certas “pautas”, e irremediavelmente incomodaria aqueles que estão contra essas “pautas”.

De fato, Jesus Cristo mesmo tomado apenas como ser histórico é aquele que dá claridade e visibilidade à lei e “rompe” – seria mais correto falar de amadurecimento e perfeição da lei -, de certa forma, com a lei dada por Moisés aos homens, segundo o coração duro daqueles que estavam com ele. Mas Cristo vai muito além do que isso: Ele incomodaria a você e a mim mesmo, Ele diria coisas e colocaria diante de nós questões que nos tirariam do eixo. Jesus não esteve e nem está comprometido com uma pauta ideológica, mas sim com a verdade, e como diria Santo Agostinho, "a verdade tem poucos amigos".

Por dizer a verdade, sabemos onde Cristo foi parar, e hoje acabaria morrendo da mesma forma, não por causa de um lado conservador ou um lado progressista, não por uma direita ou uma esquerda, mas por que a verdade incomoda o ser humano, tira-o do seu eixo de estagnação. Queremos enfim, a preguiça das ideias relativas, das opiniões infundadas e das relações superficiais; Cristo quer dinâmica das verdades concretas, das opiniões cheias de sentido (significado e também DIREÇÃO) e das relações pessoais e íntimas (empatia, fraternidade, caridade, justiça).

Não seria surpresa que os dois últimos papas de nossa Igreja tenham sido ao mesmo tempo tão louvados e odiados pela maioria das pessoas. Esse misto entre admiradores e perseguidores de ambos acabou por criar um clima nada católico dentro da Igreja. Considero-a uma divisão que só existe nos olhos daqueles que insistem em criar uma profunda cisão no seio da Igreja. Bento XVI e Francisco podem ter perfis diferentes, mas, fica claro a qualquer observador atento que ambos sempre tiveram e têm o mesmo objetivo: mostrar o perigo do pensamento moderno para a fé e para a dignidade humana.

Embora visto como conservador, Bento XVI não deixou de lado os temas sociais, e muitas vezes se posicionou de forma clara como pontífice da Igreja. Não havia, no entanto, uma perseguição ao Papa Emérito nesse sentido: seu viés intelectual e teológico sustentava de forma sólida tudo que dizia, e até hoje muitos abrem os ouvidos para ouvi-lo movidos pelo respeito e reconhecimento a esse grande homem da razão. Bento XVI foi a misericórdia de Deus em sua divina providência, conservando a Igreja nas mãos de um homem que soube defender a doutrina, a teologia e os dogmas da fé cristã, diante de um mundo que perdia a fé e relativizava tudo.

Agora, temos o Papa Francisco. Se atacavam Bento XVI chamando-o de conservador, à Francisco atacam-no chamando-o de comunista. As suspeitas surgirem graças ao seu viés mais pastoral, e por Francisco ser um fiel seguidor da Doutrina Social da Igreja. É novamente um presente da providencia divina que coloca Francisco, homem da verdadeira caridade, à frente da Igreja em um tempo em que precisamos reaprender com Ela e com a palavra de Cristo sobre o sentido da verdadeira caridade, e das implicações de vivermos esse amor. Diante da crise no mundo, Francisco afirma-se e reflete de forma cada vez mais profunda a respeito de sua responsabilidade como pontífice da Igreja de Cristo. O meio pelo qual Ele encontrou para curar os males do mundo é o caminho do exemplo, da vida como evangelho último, e talvez o único evangelho que alguém poderá ler na vida. Em resumidas palavras: o que comove o mundo é o exemplo.


Francisco e Bento XVI não estão opostos, pois seus esforços são para combater os problemas no mundo. Francisco incomoda por que lembra ao mundo que ele se tornou egoísta e que ser egoísta é uma falta de caráter, mesmo no mundo em que se esconde o egoísmo por trás do "amar a si mesmo", "se você não gostar de si não vai gostar de mais ninguém" e etc.; Bento XVI incomoda o mundo por lembrar a eles da verdade, não só da verdade de que Cristo é amor (suas cartas DEUS CARITAS EST e CARITAS IN VERITATEM lembram-nos desse papa apaixonado pelo Deus amor), mas a verdade de que a lógica do mundo não está em conformidade com a de Cristo: "o mundo vos odiará por que primeiro odiou a mim” (Jo 15,18). No mundo egoísta e relativista em que vivemos, quase nunca haverá espaço para homens como Francisco e Bento XVI: amantes de Deus e da verdade, apóstolos dos últimos dias, que precisam lembrar ao mundo muitas das coisas que ele esqueceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário