sábado, 18 de julho de 2015

A deseducação da pátria.


Denilson Cardoso de Araújo

Disse Dilma que educação seria prioridade suprema, com ações de governo formadoras, cidadãs, éticas e republicanas: pátria educadora. É... O que a Dilma fala não se escreve. Mas não ria. Tente não chorar com o capítulo atual da crise das escolas e universidades brasileiras.

Nem direi da amalucada combinação de o MEC lançar o Plano Nacional de Educação, e depois vir a Secretaria de Assuntos Estratégicos gerar o Pátria Educadora conflitando com coisas do PNE. Muito cacique para pouca educação. Dá frio na espinha. Estou com Tania Zagury: “Só de ouvir falar em reforma na educação, sinto arrepios”.

Como fazer educação com esse recorde de professores com depressão? Com o desengajamento afetivo de mestres massacrados por exigências de desempenho irreais, classes selvagens, famílias algozes, direções incapazes, secretarias omissas e governos capatazes?

Que educação se quer, com o grau máximo de violência entre alunos e de alunos contra professores, sexo em salas de aula e tráfico de drogas nos pátios, que faz crescer o clamor por câmeras de segurança, detectores de metal e polícia dentro da escola?

Que educação faremos, com esses currículos inchados de temas transversais, modismos pedagógicos, modernidades decrépitas, projetos de escolas suíças para fazer de conta em escolas etíopes? De tão fora da realidade, o que ocorre no ensino parece realidade paralela, surrealismo sem dono.

Como educar em escolas com cara de presídio - como é o clamoroso caso da Escola Jandira Bordignon, em Quitandinha, a cuja equipe heroica mando meu abraço - e escolas com cara de barraco, pardieiros espetados em barrancos, saletas de aula, becos de aula, fazendo vezes das salas faltantes? De tão vexatórias, levam alunos a tirar o uniforme na saída, para não serem apontados na rua.

Que educação teremos, em escolas sem quadras, a educação física desperdiçada no queimado pueril, sem, por exemplo, o atletismo – esporte barato e eficaz porta de acesso social a pobres, desde a Jamaica até aos guetos norte-americanos?

Como educar se quebramos as bússolas do senso de autoridade e do respeito, ao martelo das nefastas interpretações do ECA? Professores com medo de alunos, porque crianças e adolescentes lhes chegam desses criadouros de egoístas exigentes que se tornaram as desorientadas famílias.

Que educação é possível na escola onde os problemas sociais do entorno são tão graves que a equipe escolar é estimulada a suprir tudo, dar colo à comunidade e maior amor a alunos, como se um punhado de palavras carinhosas e alguns abraços pudessem suprir as profundas carências deixadas pela falta de serviços públicos decentes?

Que educação teremos com o número de alunos aumentado só para ficar bem na foto dos índices da UNESCO? Reduzir a idade de acesso escolar, usar o Bolsa Família para incrementar a matrícula, não ajuda à escola desprovida de adequados recursos e corretas políticas, que acaba virando um depósito superlotado de gente desmotivada.

Parodiando Bordieu, educação virou causa-ônibus: todos a favor, multidão na causa aglutinadora, que vira senha para o nada e para os desmandos. O governo, que não é ético, nem republicano, nem tem prática cidadã, deseduca. Atira para todos os lados sem acertar alvo algum. Sugiro a meta primária. Resgatar a autoridade do professor e a responsabilidade da família. Sem isso, não se vai a lugar algum. A não ser ao bueiro do meio milhão de notas zero no ENEM.

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