terça-feira, 11 de novembro de 2014

As Portas do Inferno.


Por Carlos Ramalhete.

...teriam prevalecido sobre a Igreja?!

Tem gente que acha que sim...

Dada a confusão que se seguiu ao Concílio, as barbaridades litúrgicas perpetradas na maioria das paróquias, será que seria correto dizer que as portas do Inferno teriam prevalecido sobre a Igreja?

Seria gravíssimo, se fosse esse o caso. É exatamente por isso que - além de lutar contra os abusos - devemos também lutar contra o cisma, que parte da premissa de que as Portas do inferno teriam prevalecido. Explico.

Nosso Senhor disse que as portas do Inferno não prevaleceriam sobre a Igreja, não que ela não passaria por maus pedaços. O Papa Paulo VI disse que "uma fumaça de Satanás entrou na Igreja", mas não disse que Satanás prevaleceu sobre a Igreja. O Santo Padre João Paulo II disse que Igreja está vivendo o seu Calvário... mas o Calvário é um período de dor e sofrimento, não uma derrota.

O Papa Paulo VI mandou fazer uma liturgia nova com um intuito nobre mas mal guiado (não devemos nos esquecer que a infalibilidade papal não significa impecabilidade papal; Papas erram, e erram de montão. Só o que eles não conseguem fazer é pregar o erro como se fosse verdade, e vice-versa): ele achava que se a liturgia da Igreja fosse simplificada ela atrairia mais facilmente os protestantes. Infelizmente, além da ideia ser péssima o sujeito que ele botou para fazer isso não era lá muito confiável. O primeiro texto da Instrução Geral do Missal novo foi recusado pelo Papa e teve que ser parcialmente reescrito, por quase deixar de lado pontos essenciais da Fé católica em sua explicação da Missa. O Bispo que o fez foi mais tarde acusado de ser maçom. Ele jura de pés juntos que não é. O Papa acreditou que era ao menos ao ponto de dar a ele a nobre missão de núncio apostólico no Irã de Khomeini (fanático muçulmano, perto de quem o Osama era uma coisinha fofa).

A Missa que saiu daí, ainda por cima, foi levada às mãos das Conferências Episcopais. Elas começaram a traduzir *a Missa toda* (não só as leituras) e a inserir coisas que não estavam lá, tirar coisas que estavam, etc. Isso era a década de setenta; no mundo o movimento hippie havia atingido seu auge, e surgia o punk. Todo o mundo estava em um processo de mudança social e cultural acelerada, e a liturgia da Igreja viu-se agarrada neste movimento pelas Conferências Episcopais. O Papa Paulo VI, que Deus o tenha, via-se completamente desprovido de poder de fato desde que havia condenado bravamente a contracepção artificial e sido desobedecido por quase todos. As Conferências Episcopais (no Brasil a CNBB) faziam e aconteciam, mandavam e desmandavam. Para tornar a coisa pior, nas Conferências estavam muitíssimos hereges, e eles - aproveitando a fraca liderança do Papa - conseguiam aumentar os seus números, fazendo novos Bispos no mesmo estilo.

A ação deles na liturgia também foi apavorante. Além dos erros propositais de tradução (como na Consagração, quando o "Sangue, que será derramado para vós e para muitos" virou "Sangue, que será derramado por vós e por todos", ou o Cordeiro que Deus, que passou a tirar "o pecado" - único? - do mundo, ou, ou, ou...); os padres foram incentivados (para não dizer forçados) a celebrar em português, enfiando-se atrás do altar, de costas para o Sacrário, como se fossem apresentar o Sacrifício para os fiéis, não em benefício dos fiéis para Deus; as invencionices aumentaram por todo lado - especialmente na Europa, onde os bispos holandeses chegaram a lançar um catecismo herético que continuaram a vender mesmo depois de ele ter sido condenado por Roma - e, com a facilidade de comunicação dos dias de hoje, rapidamente avançaram por todo lado. Os fiéis passaram a receber o Santíssimo de pé e na mão, dado por um leigo. As Missas passaram a ter bandas de rock, com violão e bateria na igreja. E por aí vai.

Em suma, o Demônio atacou, e com vontade.

Atacou mas não venceu. O Papa Bento XVI, desde o começo de seu pontificado, tentou tomar novamente as rédeas. Lançou o novo Catecismo, que desmancha cuidadosamente os erros do Catecismo Holandês (veja como o Catecismo de JPII dá muita ênfase à Cristologia, por exemplo, que é a área onde havia mais heresias no Catecismo Holandês); já deu ordens (que não são obedecidas, mas estão aí para ajudar os bons padres e bons Bispos que as queiram impor) contra o uso de leigos em ministérios do Sacerdote, etc.

A técnica dele é a polonesa: manter firmemente o essencial, ceder no acidental e procurar lentamente recuperar o terreno perdido quando algo acidental foi cedido. É assim que a Polônia sobrevive até hoje, tendo sido sempre atacada e invadida pelos alemães e pelos russos.

A Missa de Paulo VI é válida, ou seja, é uma missa verdadeira, por mais que seja fácil fazer dela ocasião de desrespeito. Há padres que a celebram de maneira respeitosa e digna, e até mesmo um movimento que busca incentivar que ela seja celebrada de maneira 100% católica (se você lê inglês visite o site do Adoremus, associação dedicada à luta pela ortodoxia na Missa Nova). A Igreja, mesmo durante esta confusão, não ensinou jamais nada de errado. A fumaça já está se dissipando, e a diferença entre a nossa situação atual e a de há vinte anos é gigantesca!


Assim, podemos sim dizer que a Igreja sofreu um dos ataques mais fortes que o Inferno já tentou contra ela, mas não que as Portas do Inferno tenham prevalecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário