quinta-feira, 6 de março de 2014

Quaresma e Fraternidade.


Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Hoje, quarta-feira de Cinzas, começa o importante tempo litúrgico da Quaresma, no qual a Igreja almeja que nos unamos mais intimamente ao Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mistério que inclui sua Paixão, sua morte e sua gloriosa Ressurreição. A Campanha da Fraternidade, que acontece na Quaresma, tem como finalidade unir as exigências da conversão, da oração e da penitência com algum projeto social, na intenção de renovar a vida da Igreja e ajudar a transformar a sociedade, a partir de temas específicos, tratados sob a visão cristã, convocando os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos de Cristo, vendo-o na pessoa do próximo, especialmente dos mais necessitados da nossa ajuda.

O tema da Campanha da Fraternidade desse ano é “Fraternidade e tráfico humano”, com o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).

A razão é que o tráfico humano está presente em todo o mundo e os cristãos não podem ficar insensíveis a essa triste realidade. Tráfico humano é toda comercialização de pessoas, ou seja, o uso de pessoas como se fossem coisas vendáveis, negociáveis. É uma forma de escravidão, um desrespeito grave à dignidade da pessoa humana. Pessoas são compradas e vendidas por dinheiro, para o prazer, para extração de órgãos ou como instrumento de corrupção. Segundo as Nações Unidas, de 800 mil a 2, 4 milhões de pessoas vivem traficadas hoje no mundo. E o Brasil não fica isento dessas escravidões. Pensemos especialmente nas crianças aliciadas e escravizadas como soldados mirins a serviço do tráfico de drogas.

“O comércio de pessoas humanas constitui uma chocante ofensa contra a dignidade humana e uma grave violação dos direitos humanos fundamentais. Já o Concílio Vaticano II apontou ‘a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as condições degradantes de trabalho, que reduzem os operários a meros instrumentos de lucros, sem respeitar-lhes a personalidade livre e responsável’ como ‘infâmias’ que ‘envenenam os que as cometem e constituem ‘uma suprema desonra ao Criador’ (GS 27)” (B. João Paulo II).


“Insisto que o tráfico de pessoas é uma atividade ignóbil, uma vergonha para as nossas sociedades, que se dizem civilizadas! Exploradores e clientes de todos os níveis deveriam fazer um exame sério de consciência diante de si mesmo e perante Deus! Hoje a Igreja renova o seu apelo vigoroso a fim de que sejam sempre salvaguardadas a dignidade e a centralidade de cada pessoa, no respeito pelos seus direitos fundamentais, como ressalta a sua doutrina social... Num mundo em que se fala muito de direitos, quantas vezes é verdadeiramente espezinhada a dignidade humana! Num mundo onde se fala tanto de direitos, parece que o único que os tem é o dinheiro...” (Papa Francisco).

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