sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Sobre a necessidade de se reconquistar o sentido original do trabalho enquanto vocação, no sentido católico do termo.


Por José Octávio Dettman.

Sobre a necessidade de se reconquistar o sentido original do trabalho enquanto vocação, no sentido católico do termo (relatos de uma discussão que ocorreu no Natal de 2013)

01) Está cada dia mais complicado dialogar com alguém que só olha o lado meramente pragmático do trabalho - uma pessoa que só olha isso como um mero meio de sustento e nada mais é uma pessoa que só sabe enxergar apenas o auto-interesse, tão-somente.

02) Essa pessoa, infelizmente, só sabe enxergar a sua verdade, já que não tem Deus no coração. É por essas razões que estou interessado no estudo do distributivismo, já que o ideal Cristão é muito forte em mim e me recuso a abrir mão dele, por ser caro - e nobre demais em si mesmo para ser perdido pelas pressões da vida anti-humana que levamos.

03) A verdade, para o homem livre em Cristo, é que sobreviver não é o aspecto mais importante - a não ser para um vegetal preso a uma cama, se bem alimentado por uma sonda e tendo os devidos cuidados dos enfermeiros, que mais parecem jardineiros cuidando de uma planta. Pois nenhum humano tornado vegetal por conta de acidente ou deficiência é feliz, a não ser que tenha uma família para cuidar dele e por ter Cristo ao seu lado. Isso é o que pode confortá-lo - e no mundo cada dia mais sem ideais Cristãos, a falta disso reflete a maldição dos nossos tempos.

04) Mas a felicidade, própria do amparo que se dá aoo homem tornado vegetal, é frágil, perto do arbítrio dos homens - e tal como o feto ele é um ser indefeso. 

05) E o que mais vemos, no entanto, é os familiares quererem fazer eutanásia no vegetal, já que ele é caro demais, pois ele suga recursos importantes para o sustento da família. Essas famílias enxergam suas próprias verdades e por isso não têm Deus no coração. 

06) Esse é o mal terrível de quem enxerga as coisas apenas pelo lado do sustento, pois está sendo utilitarista. E o utilitarista é por natureza um homicida. Este argumento é extremamente relevante, do ponto de vista da ordem publica. Por isso que repudio essa visão de mundo que aponta o trabalho como fonte de sustento ou de riqueza tão somente, e não um meio para se exercer o chamado da alma. Esses fins, fundados no auto-interesse, pervertem o meio.

07) Viver para servir ao próximo na constância de Cristo e fazer disso um caminho para crescer pessoalmente, intelectualmente e espiritualmente é o sentido da vocação, e é aí que está a fonte de todas profissões e da justa remuneração de todo e qualquer trabalho, pois o bom serviço é a causa da boa remuneração - e esta é razão mais nobre de todas as coisas que devemos buscar, pois se funda em Cristo e não no auto-interesse. 

08) Se o auto-interesse fosse a base da liberdade, o trabalho, que é o fim da vocação, se reduziria a um mero emprego e a remuneração teria mero caráter alimentar - ela não refletiria o que é de fato a natureza do trabalho: um mero empreendimento, um chamado da alma. O sustento é conseqüência de um bom trabalho feito, pois quem serve bem é digno de viver. Por isso que a dignidade da pessoa humana não pode ser elevada como um princípio de Direito Constitucional positivo, mas como uma conseqüência não escrita de uma vida servindo a Cristo, à verdade e à caridade. Isso está escrito na carne e não nas frias letras da lei. 

09) O auto-interesse rebaixa o valor do trabalho pois reduz as coisas a um mero cálculo matemático, a um jogo conveniências, a uma politicagem. Pois nenhum ser humano é verdadeiramente livre se não atender ao chamado da alma e não integrar-se num projeto de vida que seja o de colaborar de modo a ajudar a edificar a civilização no seu país, de modo a tomar o seu país como se fosse um lar. Sem Cristo não há instalação nem nacionidade, muito menos liberdade. Sem Cristo é impossível descobrir o sentido da pátria, em sua circunstância.

10) Quem olha para o serviço público com mero carreirismo, como uma forma de ganhar a vida, apenas como um mero sustento tão-somente, certamente será indiferente para o fato de que o governo que assina o contracheque é de direita ou de esquerda. No final das contas, esse elemento é que nem uma prostituta, pois pelo dinheiro faz qualquer negócio. O TJ-RJ está cheio de elementos assim. A nossa elite jurídica só pensa em escrever livros para serem usados pelos concurseiros. Eles não servem mais à verdade, fonte de todo bom direito. 

11) Bem que o Olavo falou que o Brasil vive uma crise muito grande no âmbito das vocações. Onde o dinheiro e a busca desesperada por sustento são a causa determinante para se exercer uma profissão, a verdade é que o sentido da fundação da pátria vai se esvaziando cada vez mais, pois não se vê um sentido no Brasil que não tomá-lo como um lar, mas como um lugar para se sobrevier, um lugar de castigo. Perde-se com isso a noção de vida eterna e se institui entre nós a crença na reencarnação. É um indício de miséria espiritual.

12) Eu optei por seguir um caminho que atende a minha vocação, mas não ganho um centavo por causa do que faço. Desde que a advocacia virou uma prostituição e as opções que estão disponíveis no mercado se limitam ou a concurso público ou a trabalhar pra crápulas que só se importam com o dinheiro e nada mais, eu me sinto num mato sem cachorro.

13) Acham que sou um arrogante porque me recuso a enxergar a carreira como um mero meio de sustento. Se olhasse dessa forma, talvez nem precisasse ir pra faculdade e talvez veria que nem valeria à pena estudar para ser feliz, tal como a maioria dos que conheci em Padre Miguel. 

14) Mas a minha vida não se resume a busca da plena felicidade para mim mesmo - se fosse assim, eu seria um espectro de homem, digno a perecer no tempo e ser esquecido. Muito pelo contrário: é por acreditar nos valores tradicionais e nos ideais nobres da aristocracia que decidi estudar para servir melhor à minha nação, já que a tomo como um lar. E quando vi a realidade de miséria intelectual e moral nas universidades públicas, entrei em depressão. Não tinha quem me sustentasse emocionalmente, a não ser meus contatos espalhados pelo país afora, pois muitos estão comigo desde os tempos de orkut, em 2007.

15) Passei horas discutindo, mas não arredei pé. Acham que fiquei menos Cristão por não me render ao pragmatismo barato desta vida, pois a idéia de trabalho como fonte de sustento e de riqueza e como um sinal de predestinação prospera viva e forte, o que mostra como o mau ensinamento protestante corrompe a todos. E aqui em casa, os valores evangélicos, próprios deste mundo moderno cada vez mais materialista, estão muito bem sedimentados.

16) Sei que Natal não é tempo de briga, mas num lar onde o Natal é tomado como um dia como um outro qualquer, brigar com essas pessoas para defender os valores de Cristo parece ser a melhor coisa que posso fazer, de modo a se ter o menino Jesus no coração. A missa do galo renovou meu espírito e não vou descansar para que isso seja restaurado.

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