quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Falecidos, não mortos.

Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

No próximo dia 2 celebraremos a memória dos fieis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna. Portanto, não estão mortos, estão vivos, mais até do que nós, na vida que não tem fim, “vitam venturi saeculi”. Sua vida não foi tirada, mas transformada. Por isso, o povo costuma dizer dos falecidos: “passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero pensando que tudo acabou. Uma nova vida começou eternamente.

Os pagãos chamavam o local onde colocavam os seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os cristãos inventaram outro nome, mais cheio de esperança, “cemitério”, lugar dos que dormem. É assim que rezamos por eles na liturgia: “Rezemos por aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem no sono da paz”.

Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal. Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade. A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. S. Agostinho nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”

Quantas boas lições nos dá a morte. Assim nos aconselha o Apóstolo São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31).

Diz o célebre livro A Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos: “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Não confies em amigos e parentes, nem deixes para mais tarde o negócio de tua salvação; porque, mais depressa do que pensas se esquecerão de ti os homens. Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imit. I, XXIII). O dia de Finados foi estabelecido pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no esquecimento.


Três coisas pedimos com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu, oposto ao reino das trevas que é o inferno. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que todos os que nos precederam descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A concepção de que a alma é imortal.


Por Cláudio Cássio e Igson Mendes

A concepção de que a alma é imortal, foi aplicado primeiramente pelo filósofo
Platão e Aristóteles.
Platão. No platonismo a alma é um princípio puramente espiritual e distinto do corpo. Já outro reconhecido filósofo Aristóteles, afirma em seu pensamento que a alma está unida ao corpo, porém a espiritualidade e imortalidade são menos visíveis. Todavia, tais visões foram revistas e cristianizadas pela filosofia cristã, se tornando teocêntrica.

A bíblia não pretende fazer ciência sobre o homem nem sobre Deus, ela nos mostra aspectos relevantes para uma concepção de homem. Seu enfoque é religioso. Enquanto os filósofos definem o homem como "animal racional”, a bíblia o define como “imagem de Deus". Na narrativa sacerdotal do gênesis, quando descreve que viemos do barro nos mostra nosso vínculo terrestre, que animado pelo sopro divino, é um "vivente" vinculado a Deus.

Essas questões são antigas e surgem porque o homem é o único vivente que indaga sobre sua própria natureza, que se torna problema para si mesmo. Somente nós somos conscientes de si mesmos. Somente nós podemos refletir sobre as ideias e ações.

Nós entendemos que nossa fé está vinculada a uma conversão radical, isto implica também a quebra de paradigmas pré-concebidos por "falsa cultura", mudança de pensamentos e atitudes, é a metanóia.

Somos livres para debater, mas jamais forçar ou impor o que pensamos. Um homem só jamais será maior que o todo.

Etimologicamente, o termo “alma” é usado para traduzir o hebr. Nefesh. A tradução é infeliz; alma, na linguagem comum, reflete o complexo de ideias que à filosofia grega passada através do escolasticismo medieval. No AT, o conceito grego de alma (psyché) basicamente é o “eu pessoa” (Sb 3,1; 8,19s). Já no NT, a psyché é associada á vida. (Mt 2,20; At 4,32; Rm 11,3; Fl 2,30; Ap 12,11;20,4;27.10.22). Categoricamente, a Igreja afirma que a esperança, certeza da salvação, é a âncora da psyché (Hb 6,19). Concretamente,  a novidade da fé do NT não deriva de uma nova ideia de nefesh-psyché, mas da Revelação Divina ao longo da história da Salvação em Cristo e do significado da vida.

Nos estudos que fizemos, percebemos que a doutrina agostiniana da imagem de Deus
Imagem de Deus em: a criação.
é uma das mais completas e coerentes de toda a Patrística. Agostinho ordena e sistematiza os textos bíblicos sobre o tema desenvolvendo toda uma antropologia ao mesmo tempo metafísica e espiritual. Segundo ele, a imagem encontra-se no interior da alma, no que há de permanente e imortal, ou seja, nas três potencias: memória (mens), inteligência (notitia) e vontade (amor), que formam por assim dizer, a sua textura natural. O que faz que a alma seja imagem de Deus é o fato de ela ser capaz de Deus e poder participar de Deus.

Já Tomás de Aquino vê a semelhança do homem com Deus fundamentado na unidade física e espiritual. Tomás acolhe o pensamento de Aristóteles, que diz que o homem é homem, por sua natureza, em potência, e que somente por seus atos livres se transforma em homem, em ato.

Compreender que os dois elementos que se distinguem no ser humano, “corpo e alma” não é separa-los, pois ambos constituem a unidade radical da pessoa, e quando se “separam” ocorre à morte.

Na sociedade moderna temos os pensamentos do materialismo e idealismo que afirmam a homogeneidade radical do ser, reduzindo tudo á matéria ou ao espírito. Eliminam a transcendência e imortalidade da alma.

Através dos estudos das causas primárias (metafísica), afirma-se a autotranscendência
do homem, quanto aos elementos: mente alma, espírito. Mas, dentro da temática que abordamos aqui para não fugirmos da centralidade do conteúdo, entendemos então, como autotranscendência a afirmação de que a matéria torna-se corpo humano apenas no instante em que começa a existir a alma: graças ao seu ato de ser, adquire consistência e autonomia também corpo.

“Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso "ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23). A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa que o homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é capaz de ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.” (CIC § 367).

A verdade, amigos, é que só tomamos conhecimento do fundamento espiritual do ser humano, em questão, quando dirigimos nossa atenção não para aquilo que conhecemos, mas para o conhecimento como tal.

O dualismo corpo-alma na tradição filosófico-religiosa é a tentativa de esclarecer a ambivalência do homem a partir do conceito de união de diferentes substâncias. Contra toda a forma de dualismo, devemos salientar que o homem ou a pessoa singular é a única substância que tem propriedades psíquicas e físicas, ou seja, não se reduz ao corpo nem à alma. A alma humana está em um corpo, e o corpo humano é animado. Como humanos somos, em corpo, seres encarnados. O corpo é a nossa maneira se ser no mundo. Através do corpo estamos em comunhão com todo o universo material. Sem corpo não há mundo nem consciência.

A alma é a forma do corpo, permanece um só com ele, e essa forma é o espírito de um homem, um espírito individual.

A alma humana une a finitude do homem, enquanto começou no tempo, com a infinitude de Deus, enquanto é imortal.

A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus - não é "produzida" pelos pais - e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá novamente ao corpo na ressurreição final.” (CIC § 366)

O homem é "corpore et anima unus" (uno de corpo e alma). A doutrina da fé afirma que a alma espiritual e imortal é criada diretamente por Deus. (CIC § 382)

Resumindo também a questão do homem "imagem de Deus", lemos que O homem é parecido com Deus (Gn 5,1), como o filho com seu pai (Gn 5,3), porque recebeu do seu Criador algo divino (Gn 2,7). Sendo imagem de Deus, ele representa Deus entre as demais criaturas, mas não é Deus. Por isso, a vida do homem é inviolável. (Gn 9,1).

A semelhança de Deus da pessoa é antes de ser um conceito antropológico, um conceito teológico. Tal semelhança manifesta-se na diferença sexual e na comunhão das pessoas. Desde a criação, ser pessoal consiste na diferença sexual e na relação mútua. Deus aparece para a humanidade em sua imagem feminino-masculina. Diante disto, o lógico é compreender que a profunda e verdadeira realização do ser se dá somente na convivência entre homem e mulher.

Enfim, Cristo é a imagem perfeita de Deus. Nós nos tornamos imagem de Cristo pelo Batismo e mais próximos dessa perfeição.

REFERÊNCIAS:
1. ARDUNI, Juvenal. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. 5.edição. Paulus.2009.
2. Zilles, Urbano. A crítica da religião. Porto Alegre. EST, 2009.
3. COMBLIN, José. Antropologia cristã. Petrópolis. Vozes, 1985.
4. RAHNER, Karl. Teologia e Antropologia. Paulinas, 1976.
5. Zilles, Urbano. Antropologia teológica. Paulus, 2011.
6. Mondin, Battista.1926. O homem, quem é ele? : elementos de antropologia filosófica. Ed. Paulus.1980
7. McKenzie, John L. Dicionário Bíblico. Ed. Paulus,1983.

8. Fernandez, Aurélio. Moral Fundamental – Iniciação Teológica. Ed. DIEL, 2004.

domingo, 27 de outubro de 2013

O Tribunal Europeu e os embriões humanos.

O Tribunal de Justiça Europeu, em 18 de outubro de 2011 (Grande  Secção), declarou a impossibilidade de ser patenteada a utilização  de embriões humanos, não só para fins industriais e comerciais,  mas também para a investigação científica, dando, entretanto, espaço para fins terapêuticos ou de diagnóstico, na medida em que  seja útil para o próprio embrião.

A decisão seguiu a determinação prevista no artigo 6º, nº 2, alínea “c” da Diretiva da Comunidade Européia de nº 98/44.  A definição do que seja embrião humano foi dada pelo próprio  acórdão “constituem embrião humano todo o óvulo humano desde a fase da fecundação”.

Termina, o acórdão do Tribunal, com as seguintes determinações: “2) A exclusão da patenteabilidade relativa à utilização de embriões  humanos para fins industriais ou comerciais, prevista no artigo 6º,  nº 2, alínea c), da Directiva 98/44, abrange também a utilização  para fins de investigação científica, só podendo ser objecto de uma  patente a utilização para fins terapêuticos ou de diagnóstico  aplicável ao embrião humano e que lhe seja útil.

3) O artigo 6º, n.° 2, alínea e), da Directiva 98/44 exclui a  patenteabilidade de uma invenção, quando a informação técnica  objecto do pedido de patente implicar a prévia destruição de embriões humanos ou a sua utilização como matéria prima,  independentemente da fase em que estas ocorrem e mesmo que a descrição da informação técnica solicitada não mencione a  utilização de embriões humanos”.

Do referido acórdão, é de se concluir que a comunidade européia,  por seu Tribunal Maior –não Cortes de derivação ou de poder  delegado- reunido em Grande Secção, afastou a tese de que o embrião humano não seria um ser humano, pois admitiu a vida desde a concepção, ao não admitir patentes envolvendo a negociação e destruição de vidas humanas, na sua forma  embrionária, não só para fins de industrialização e comércio pelos  grandes laboratórios, mas também para investigação científica.

No mesmo acórdão, deixou claro que a destruição dos embriões ou  sua utilização como matéria-prima, também não podem servir de  base para sua patenteabilidade, visto que apenas as investigações que beneficiem os próprios embriões, ou seja, para sua  preservação, são admitidas.

O acórdão - de pouca repercussão entre os defensores dos que se utilizam células embrionárias (embriões humanos)para pesquisas e  que o Supremo Tribunal Federal permitiu fossem realizadas no  Brasil, quando admitiu a constitucionalidade por inteiro da lei de biosegurança - parece, decididamente, sinalizar que, ao falar em células embrionárias, entende aquela Corte Suprema da União  Européia estar falando em seres humanos na sua forma embrionária, algo que –creio que desde 2003-- a Academia de Ciências do Vaticano, com seus 29 prêmios Nobel entre os 80 acadêmicos, já tinha definido, em sessão exclusivamente dedicada a caracterizar o início da vida humana.


A intenção deste artigo não é polemizar, mas demonstrar que a melhor solução, respeitando a dignidade da vida humana, é buscar soluções terapêuticas, a partir das células adultas reprogramadas, conforme as experiências de Yamanaka – que acaba de ganhar o prêmio Nobel deste ano - sem quaisquer riscos de destruição de seres humanos, na sua forma embrionária, e com resultados terapêuticos cada vez maiores e melhores, os quais começaram a ser alcançados desde os tempos em que as experiências se faziam exclusivamente com as células adultas, ainda quando não reprogramadas. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

PEREGRINAÇÃO EM ROMA.

Dom Fernando Arêas Rifan

Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney 


                Estou em Roma, “cidade eterna”, para acompanhar a Peregrinação internacional Summorum Pontificum, da qual fui convidado para celebrar a Missa Solene Pontifical de encerramento, na Basílica de Santa Maria sopra Minerva, no próximo domingo, dia 27. Hoje, quarta-feira, estarei presente na audiência do Santo Padre, o Papa Francisco, na Praça de São Pedro. Além de cumprimentar pessoalmente o Papa, dele receberei a bênção especial para todos os que me são caros, entre os quais incluo os meus leitores.

            Um dos pontos altos dessa peregrinação será a Missa celebrada na Basílica de São Pedro, no sábado, dia 26, pelo Cardeal Dom Dario Castrillón Hoyos, o mesmo que, em nome do Papa, erigiu a nossa Administração Apostólica e presidiu a minha ordenação episcopal.

            Haverá também uma Missa Pontifical celebrada por Dom Athanasius Schneider, Bispo auxiliar de Astana, no Cazaquistão, além de muitos outros atos religiosos, tais como Vésperas solenes, oficiada por Dom Guido Pozzo, secretário da Pontifícia ComissãoEcclesia Dei, um encontro sacerdotal com Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a promoção da nova Evangelização, Via Sacra sobre a colina do Palatino e adoração eucarística na Chiesa Nuova.

            Todas as Missas dessa peregrinação serão celebradas na forma antiga do Rito Romano, pois essa romaria é dirigida aos sacerdotes e fiéis ligados a essa forma litúrgica, que foi concedida a toda a Igreja pelo Papa Bento XVI, com o motu próprioSummorum Pontificum, daí o nome da Peregrinação.

A antiga forma da Liturgia Romana, chamada também forma extraordinária, é uma das riquezas litúrgicas católicas e foi usada por muitos santos por vários séculos. É conservada por muitas congregações religiosas, paróquias, grupos e milhares de fiéis em todo o mundo; no Brasil, são mais de 100 lugares onde se conserva essa Liturgia, com a devida permissão dos Bispos locais, como deve sempre ser. Como todos sabem, nós também a conservamos em nossa Administração Apostólica, por faculdade a nós concedida pela Santa Sé, por apreciar essa beleza litúrgica, clara expressão católica dos dogmas eucarísticos. E a Santa Sé reconhece essa nossa sensibilidade e adesão como perfeitamente legítimas. Assim se expressara o então Cardeal Ratzinger: “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos chilenos, Santiago, 13/7/1988). A nossa presença nessa peregrinação significa o nosso apoio a esses católicos de todo o mundo e, ao mesmo tempo, tem a finalidade de mostrar-lhes a correta posição de conservar a liturgia tradicional em perfeita comunhão com o Santo Padre, o Papa, e com toda a Igreja. Assim, desse modo bem compreendida, a Missa na forma antiga contribui grandemente para a correta “ars celebrandi” e para a “paz litúrgica” na Igreja, como desejava Bento XVI.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

13/10/2013 - JORNADA MARIANA. Papa Francisco.

SANTA MISSA PRESIDIDA PELO PAPA FRANCISCO NA JORNADA MARIANA
 POR OCASIÃO DO ANO DA FÉ
HOMILIA DO SANTO PADRE
Praça de São Pedro
Domingo, 13 de Outubro de 2013


Recitamos no salmo: «Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas» (Sl  97, 1).
Encontramo-nos hoje diante duma das maravilhas do Senhor: Maria! Uma criatura humilde e frágil como nós, escolhida para ser Mãe de Deus, Mãe do seu Criador.

Precisamente olhando Maria à luz das Leituras que acabamos de escutar, queria refletir convosco sobre três realidades: a primeira, Deus surpreende-nos; a segunda, Deus pede-nos fidelidade; a terceira, Deus é a nossa força.

1. A primeira: Deus surpreende-nos. O caso de Naamã, comandante do exército do rei da Síria, é notável: para se curar da lepra, vai ter com o profeta de Deus, Eliseu, que não realiza ritos mágicos, nem lhe pede nada de extraordinário. Pede-lhe apenas para confiar em Deus e mergulhar na água do rio; e não dos grandes rios de Damasco, mas de um rio pequeno como o Jordão. É uma exigência que deixa Naamã perplexo e também surpreendido: Que Deus poderá ser este que pede uma coisa tão simples? A vontade primeira dele é retornar ao País, mas depois decide-se a fazê-lo, mergulha no Jordão e imediatamente fica curado (cf. 2Re 5,1-14). Vedes!? Deus surpreende-nos; é precisamente na pobreza, na fraqueza, na humildade que Ele Se manifesta e nos dá o seu amor que nos salva, cura, dá força. Pede somente que sigamos a sua palavra e tenhamos confiança n’Ele.

Esta é a experiência da Virgem Maria: perante o anúncio do Anjo, não esconde a sua admiração. Fica admirada ao ver que Deus, para Se fazer homem, escolheu precisamente a ela, jovem simples de Nazaré, que não vive nos palácios do poder e da riqueza, que não realizou feitos extraordinários, mas que está disponível a Deus, sabe confiar n’Ele, mesmo não entendendo tudo: «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). É a sua resposta. Deus surpreende-nos sempre, rompe os nossos esquemas, põe em crise os nossos projetos, e diz-nos: confia em Mim, não tenhas medo, deixa-te surpreender, sai de ti mesmo e segue-Me!

Hoje perguntemo-nos, todos, se temos medo daquilo que Deus me poderá pedir ou está pedindo. Deixo-me surpreender por Deus, como fez Maria, ou fecho-me nas minhas seguranças, seguranças materiais, seguranças intelectuais, seguranças ideológicas, seguranças dos meus projectos? Deixo verdadeiramente Deus entrar na minha vida? Como Lhe respondo?

2. Na passagem lida de São Paulo, ouvimos o Apóstolo dizer ao seu discípulo Timóteo: Lembra-te de Jesus Cristo; se perseverarmos com Ele, também com Ele reinaremos (cf. 2Tm 2,8-13). Aqui está o segundo ponto: lembrar-se sempre de Cristo, a memória de Jesus Cristo, e isto significa perseverar na fé. Deus surpreende-nos com o seu amor, mas pede fidelidade em segui-Lo. Podemos nos tornar “não fiéis”, mas Ele não pode; Ele é “o fiel” e pede-nos a mesma fidelidade. Pensemos quantas vezes já nos entusiasmamos por qualquer coisa, por uma iniciativa, por um compromisso, mas depois, ao surgirem os primeiros problemas, abandonamos. E, infelizmente, isto acontece também com as opções fundamentais, como a do matrimônio. É a dificuldade de ser constantes, de ser fiéis às decisões tomadas, aos compromissos assumidos. Muitas vezes é fácil dizer «sim», mas depois não se consegue repetir este «sim» todos os dias. Não se consegue ser fiéis.

Maria disse o seu «sim» a Deus, um «sim» que transtornou a sua vida humilde de Nazaré, mas não foi o único; antes, foi apenas o primeiro de muitos «sins» pronunciados no seu coração tanto nos seus momentos felizes, como nos dolorosos… muitos «sins» que culminaram no «sim» ao pé da Cruz. Estão aqui hoje muitas mães; pensai até onde chegou a fidelidade de Maria a Deus: ver o seu único Filho na Cruz. A mulher fiel, de pé, destruída por dentro, mas fiel e forte.

E eu me pergunto: sou um cristão “soluçante”, ou sou cristão sempre? Infelizmente, a cultura do provisório, do relativo penetra também na vivência da fé. Deus pede-nos para Lhe sermos fiéis, todos os dias, nas ações quotidianas; e acrescenta: mesmo se às vezes não Lhe somos fiéis, Ele é sempre fiel e, com a sua misericórdia, não se cansa de nos estender a mão para nos erguer e encorajar a retomar o caminho, a voltar para Ele e confessar-Lhe a nossa fraqueza a fim de que nos dê a sua força. E este é o caminho definitivo: sempre com o Senhor, mesmo com as nossas fraquezas, mesmo com os nossos pecados. Nunca podemos ir pela estrada do provisório. Isto nos destrói. A fé é a fidelidade definitiva, como a de Maria.

3. O último ponto: Deus é a nossa força. Penso nos dez leprosos do Evangelho curados por Jesus: vão ao seu encontro, param à distância e gritam: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós» (Lc 17, 13). Estão doentes, necessitados de serem amados, de terem força e procuram alguém que os cure. E Jesus responde, libertando-os a todos da sua doença. Causa estranheza, porém, o facto de ver que só regressa um para Lhe agradecer, louvando a Deus em alta voz. O próprio Jesus o sublinha: eram dez que gritaram para obter a cura, mas só um voltou para gritar em voz alta o seu obrigado a Deus e reconhecer que Ele é a nossa força. É preciso saber agradecer, saber louvar o Senhor pelo que faz por nós.

Vejamos Maria: depois da Anunciação, o primeiro gesto que ela realiza é um ato de caridade para com a sua parente idosa Isabel; e as primeiras palavras que profere são: «A minha alma enaltece o Senhor», ou seja, um cântico de louvor e agradecimento a Deus, não só pelo que fez n’Ela, mas também pela sua ação em toda a história da salvação. Tudo é dom d’Ele. Se conseguimos entender que tudo é dom de Deus, então quanta felicidade teremos no nosso coração! Tudo é dom d’Ele. Ele é a nossa força! Dizer obrigado parece tão fácil, e todavia é tão difícil! Quantas vezes dizemos obrigado em família? Esta é uma das palavras-chaves da convivência. “Com licença”, “perdão”, “obrigado”: se numa família se dizem estas três palavras, a família segue adiante. “Com licença”, “perdão”, “obrigado”. Quantas vezes dizemos “obrigado” junto da família? Quantas vezes dizemos obrigado a quem nos ajuda, vive perto de nós e nos acompanha na vida? Muitas vezes damos tudo isso como suposto! E o mesmo acontece com Deus. É fácil ir até ao Senhor para pedir alguma coisa, mas ir agradece-Lo… “Ah, isso é difícil”.

Continuando a Eucaristia, invocamos a intercessão de Maria, para que nos ajude a deixarmo-nos surpreender por Deus sem resistências, a sermos-Lhe fiéis todos os dias, a louvá-Lo e agradecer-Lhe porque Ele é a nossa força. Amém.

* * *

ATO DE ENTREGA A MARIA

Bem-Aventurada Virgem de Fátima, com renovada gratidão pela tua presença materna unimos a nossa voz à de todas as gerações que te dizem bem-aventurada.

Celebramos em ti as grandes obras de Deus, que nunca se cansa de se inclinar com misericórdia sobre a humanidade, atormentada pelo mal e ferida pelo pecado, para a guiar e salvar.

Acolhe com benevolência de Mãe o ato de entrega que hoje fazemos com confiança, diante desta tua imagem a nós tão querida.

Temos a certeza que cada um de nós é precioso aos teus olhos e que nada te é desconhecido de tudo o que habita os nossos corações. Deixamo-nos alcançar pelo teu olhar dulcíssimo e recebemos a carícia confortadora do teu sorriso.

Guarda a nossa vida entre os teus braços: abençoe e fortalece qualquer desejo de bem; reacende e alimenta a fé; ampara e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia todos nós no caminho da santidade.

Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção pelos pequeninos e pelos pobres, pelos excluídos e sofredores, pelos pecadores e os desorientados; reúne todos sob a tua proteção e recomenda todos ao teu dileto Filho, nosso Senhor Jesus.

Amém.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dólares comprando consciências.

O filósofo espanhol Ortega y Gasset, 82 anos atrás, discerniu um fenômeno então novo: o culto à ignorância, que levou ao poder o fascismo e o comunismo, unidos no ódio à tradição e no culto ao vigor da juventude.

De lá para cá, este culto prosperou a olhos vistos: as emoções irrefletidas tornaram-se a base de todo juízo, e “irreverente” passou a ser um elogio. O sentido do casamento foi esquecido e substituído pela fixação no prazer sexual. O de justiça pela vingança, o de belo pelo de vendável, a religião por uma vaga sensação de bem-estar. Até mesmo a norma culta da língua deu lugar a uma relativização paternalista, em que tudo é “certo” porque alguém, em algum lugar, fala assim quando bebe um pouco demais.

Ao mesmo tempo, alguns grupos econômicos poderosíssimos aproveitam o vazio de homens e ideias para atacar ainda mais a ordem social. A mesma Fundação Ford, por exemplo, que tanto ajudou a campanha do Obama (o mesmo que agora comprou uma guerra com a Igreja ao exigir que os planos de saúde cubram o aborto), aqui no Brasil distribui dinheiro a mancheias para financiar as ONGs que militem contra a visibilidade da religião e a favor do aborto, da equiparação da união homossexual ao casamento, da legalização das drogas etc.

Com o discurso público re­­duzido a apelos emocionais e os dólares comprando consciências, o que se tem é a autodestruição da sociedade, de cima para baixo. Os governantes, de mantenedores da ordem, viraram paus-mandados de interesses estrangeiros, surfando nas emoções do eleitorado e aproveitando o emocionalismo reinante para fazer exatamente o oposto daquilo que a maioria da população gostaria que fosse feito. A mídia, dependente legal e financeiramente do governo (quantos milhões as emissoras de tevê ganham por dia para exibir comerciais estatais?), repete o mesmo discurso emocional, ajudando a esgarçar ainda mais o tecido social.

Alguma ordem persiste, mas apesar do governo, não por causa dele. Não fosse o saudável hábito brasileiro de guiar os atos pelos costumes, não pela lei, o país inteiro estaria mergulhado em convulsões sociais gravíssimas.


Como, contudo, o governo no Brasil é um domínio separado da realidade cotidiana, um castelo no ar que só entra em contato com o povo pelos impostos que cobra e serviços que não fornece, a destruição real não corresponde à desejada. Ainda há alguma ordem, e é ela que é preciso preservar para que nossos filhos possam viver em paz. De Brasília, nada de bom há de sair.

sábado, 19 de outubro de 2013

Nossa Senhora de La Salette.

Por Lizandra Danielle

“A Mensagem que Eu comuniquei em La Salette é urgente e deve ser obedecida por vós e dada a conhecer por vós também aos Meus filhos do mundo todo.”

No dia 19 de setembro de 1846, em um povoado da França, La Salette, em uma tarde comum como todas as outras, na montanha de La Salette, nos Alpes franceses, estavam Maximin Girald de 11 anos e Mélanie Calvat de 15 anos, pastoreando o gado de seu patrão. Quando de repente Mélanie avistou uma luz muito forte que vinha de dentro da mata, uma luz que dava a impressão de ser duas em uma, ela se dividiu e a outra se foi embora, mas uma permaneceu sentada em uma pedra. A menina chamou Maximin e com um pouco de receio foram ao encontro daquela luz não identificada.


Chegando mais perto a luminosidade ia ficando cada vez mais intensa e a luz era muito
forte, como a do sol, mas não queimava os olhos, formava a silhueta de uma mulher, por sinal uma bela mulher, que vestia roupas de camponesa, vestido longo, avental, touca e um lenço que cruzava na frente e nas costas, mas o que mais chamou atenção, foram as correntes pesadas que ela carregava nos ombros junto com outra corrente mais leve no pescoço. No pescoço se encontrava um crucifixo nem um pouco comum, era possível ver Jesus crucificado se contorcendo de dor e de um lado da cruz havia um martelo e do outro um alicate. Sua cabeça estava ornada de lindas flores igualmente a seus pés.

Ela estava sentada com as mãos cobrindo o rosto, chorava muito o tempo todo e conversou com as crianças. Então a bela mulher olhou para os meninos e lhes disse:

- Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!

 - Se Meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de Meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais suster. Há quanto tempo sofro por vós!

Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não mo querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de Meu Filho.

E também os carroceiros não sabem injuriar sem usar o Nome de Meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesado o braço de Meu Filho.

Se a colheita se estraga, não é senão por vossa causa. Eu vo-lo mostrei no ano passado com as batatas, e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatas estragadas, injuriáveis usando o Nome de Meu Filho. Elas continuarão assim, e neste ano, para o Natal, não haverá mais.

A bela senhora então continuou falando, mas somente para Maximin, Mélanie não podia escutar. Algum tempo depois a senhora começou a falar com Mélanie, e Maximin não escutava, eram segredos confiados a cada um, que só depois foram revelados.

E mais uma súplica foi feita a eles em relação á oração:

-Fazeis bem vossa oração, meus filhos?

- Ah! Meus filhos, é preciso fazê-la bem, à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Avé-Maria quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes rezar mais, dizei mais.

Durante o Verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros trabalham no Domingo, durante todo o Verão. Durante o Inverno, quanto não sabem o que fazer, vão à Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães.

Depois de conversar com Mélanie e Maximin, ainda com lágrimas no rosto, a Bela Senhora despede-se e sai andando junto delas até um ponto do bosque, as duas crianças relataram que seus pés deslizavam sobre a relva. Ela então começa a subir lentamente, ao chegar em uma altura de aproximadamente 4 metros, olha para sua direita onde se encontra Roma e logo para sua esquerda onde está a França, volta o olhar para as crianças e se ofusca em meio uma luz muito forte.

As crianças voltaram para casa e contaram aos patrões a aparição. Muito surpresos escreveram tudo que eles contaram, as características da Senhora, suas palavras e principalmente sua mensagem.

O Crucifixo de Nossa Senhora de La Salette


A cruz chama muito atenção. Mélanie relata que o crucifixo brilhava muito, e o crucificado às vezes parecia morto e outras parecia vivo com os olhos abertos e dando a impressão de estar ali por Sua vontade própria.

O martelo do lado esquerdo de Jesus Cristo é um símbolo daqueles que O crucificam todos os dias (nós), com seus pecados, com seu desprezo às leis divinas e com seu ódio pela perfeição.

O alicate representa aqueles que O amam e que com suas boas obras diminuem as dores de Jesus, tentando despregá-Lo da Cruz.
  
Mensagens e segredos de Nossa Senhora de La Salette

Mensagens e segredos importantes, contados a duas crianças pobres, nos faz entender que mundo é governado e é repleto por homens que não possuem a pureza e a inocência necessária e digna para receberem tamanhos tesouros da Virgem Santíssima. Podemos perceber que nas aparições mais importates de Nossa Senhora está a figura de crianças que acreditaram no que viram e não mediram esforços para transmitir ao mundo as mensagens salvadoras.

Como em todas as outras aparições, Maria mais uma vez vem nos transmitir uma mensagem para o socorro de seus filhos que estão na miséria do pecado. As mensagens contadas à Mélanie tiveram a publicação permitida por Nossa Senhora apenas no ano de 1858, exatamente no ano em que Ela novamente aparece em Lourdes (aparição já prevista pela Virgem em La Salette).

Em La Salette a Virgem, suplica a nós que livremo-nos do pecado mortal e façamos muitas penitências, do contrário sofreremos terrívelmente.

Aos Sacerdotes.

Ela cita as irreverências dos sacerdotes, ministros de Jesus Cristo, que possuem má vida e celebram os Santos Mistérios de forma indigna principalmente o Santo Sacrifício da Missa. Tornam cada vez mais impuros, por causa do amor ao dinheiro, amor à honras e aos prazeres.

“Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus que, pelas suas infidelidades e a sua má vida, crucificam de novo o meu Filho!”

Previsões

Ela prevê grandes desastres na humanidade.

A divisão entre aqueles que reinam em todas as sociedades e em todas as famílias.

Por tamanhos pecados, Maria diz que seu Filho mandaria grandes castigos que durariam 35 anos.

“A sociedade está nas vésperas dos mais terríveis flagelos e dos maiores acontecimentos; serão governados por uma vara de ferro e beberão o cálice da cólera divina”.

Anos depois vem a Primeira Guerra Mundial causando divisões em todo mundo. Nós homens não escutamos os avisos de nossa Mãe, mas Ela insistiu e apareceu em 1917 em Fátima para novamente dizer que sem o arrependimento sofreríamos muito. A primeira Guerra acabou, mas logo veio a Segunda Guerra Mundial, muito pior do que a anterior, causando sofrimentos horríveis em inocentes.

Ela prevê ainda os desastres causados por Napoleão Bonaparte. Pede para que o Papa da época (Pio IX) que “desconfie de Napoleão, o seu coração é duplo, e quando quiser ser ao mesmo tempo imperador e papa, em breve Deus o abandonará.”

 Os Apóstolos dos Últimos tempos.

Como São Luiz de Montfort a Virgem Santíssima falou na aparição em La Salette para Mélanie sobre os apóstolos dos últimos tempos.

Esse foi um dos segredos contados à menina. Maria pediu para que fosse fundado uma ordem religiosa que seguisse os seguintes propósitos :

1º – Padres, que serão os Missionários da Santíssima Virgem e os Apóstolos dos Últimos Tempos;
2º – Irmãs religiosas que dependerão dos Missionários;
3º – Fiéis de vida secular que se queiram associar à obra. A finalidade desta nova ordem religiosa é a de trabalhar-se mais eficazmente na santificação do clero, na conversão dos pecadores e a de propagar o reino de Deus na terra inteira. As religiosas, tal como os missionários, são chamadas a trabalhar com zelo na salvação das almas pela oração e pelas obras de misericórdia corporais e espirituais. Quanto ao espírito da ordem, este deve ser o espírito dos primeiros apóstolos.

A Santíssima Virgem caracterizou suficientemente este espírito, seja na regra que Ela me deu, seja no apelo aos Apóstolos dos Últimos Tempos em que finda o segredo”. (Mélanie)

“Eu dirijo um urgente apelo à Terra; chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivo que reina nos Céus; chamo os verdadeiros imitadores de Cristo feito Homem, o único e verdadeiro salvador dos homens; chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, aqueles que já se me consagraram a fim de que vos conduza ao meu Divino Filho; os que, por assim dizer, levo nos meus braços, os que têm vivido do meu Espírito; finalmente, chamo os Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que têm vivido no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e no desconhecimento do mundo. Já é hora de que saiam e venham iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como filhos queridos meus. Eu estou convosco e em vós sempre que a vossa fé seja a luz que alumie, e nesses dias de infortúnio, que o vosso zelo vos faça famintos da glória de Deus e da honra de Jesus Cristo.”

E tempos depois Mélanie recebe uma visão:

“Vejo os Apóstolos dos Últimos Tempos com os seus hábitos. Ele parece-se mais ou menos ao dos sacerdotes dos seus tempos. Numa extremidade da cinta encontram se estas três letras em encarnado: M.P.J. (Mourir pour Jesus – Morrer por Jesus), na outra extremidade as seguintes três letras em azul: E.D.M. (Enfant de Marie – Filho de Maria)”.
  
Espiritismo.

Outra profecia que se concretizou tempos depois, foi a previsão de uma religião que seria comandada pelo inimigo, o  Espiritismo.

A Vigem Santíssima diz em palavras duras que assustam ao ser lidas:

Ela diz que depois de alguns anos de sua aparição em La Salette em 1864, Lúcifer e seus anjos seriam soltos na terra. Com suas artimanhas iriam abolir rapidamente a fé de muitas pessoas, até mesmo aquelas que eram consagradas à Deus. Essas pessoas iam ser dominadas por espíritos maus e muitas casas religiosas seriam devastadas pela má fé, fazendo com que suas almas se perdessem.

Disse ainda que um mau livro se multiplicaria no mundo, pregando um evangelho contrário ao de Jesus Cristo, negando a existência do Céu e do Inferno, fundando uma igreja para servir à esses espíritos. O demônio se passaria por espíritos de justos já mortos, pregando um outro evangelho, diferente do evangelho do Deus verdadeiro, negando a existência de almas condenadas. E todas essas almas pareceriam unidas ao seu corpo. Ela ainda diz que haveriam prodígios extraordinários feitos por homens.

Ainda há dúvida de que Maria falava do Espiritismo?

Em 1846, as crianças Mélanie e Maximin descreveram todas essas palavras vindas da boca de Nossa Senhora. Na época eram profecias que não possuiam muita lógica. Mas 18 anos depois tudo se cumpriu!

Por incrível que pareça, exatamente no ano de 1864 no mês de abril em Paris acontece o lançamento do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec, comprovando a profecia falada às duas crianças de La Salette.

O Culto a Nossa Senhora.


O culto a Nossa Senhora de La Salette passou a ser mais intenso no século XX, juntamente com Nossa Senhora de Lourdes em 1858 e Nossa Senhora de Fátima em 1917 que são as três aparições mais famosas da idade moderna.

REFERÊNCIAS.




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Batalha de AZINCOURT: A Bravura de um rei corajoso e fiel.

A motivação heróica para a superação de obstáculos e para as batalhas diárias.

Por Paulo Henrique Cremoneze

William Shakespeare, o famoso bardo inglês, retratou a virtude da fortaleza, a coragem heróica em muitos dos seus escritos, principalmente nas peças rotuladas como “dramas históricos”. Uma delas é especialmente emblemática em tal aspecto e reproduz de forma romanceada um dos mais bonitos e fortes capítulos da história inglesa, HENIQUE V.

Particularmente, devo muito ao drama histórico Henrique V, pois atravessava um momento de aridez espiritual e a peça, tanto quanto os livros religiosos, inspirou-me a retomar a caminhada fiel, sob o manto da Igreja, rumo à Jerusalém celeste que espero um dia habitar.

Henrique V foi um dos últimos reis católicos da Inglaterra (convém lembrar que Henrique VIII, o vil, rompeu com Roma e a Igreja Católica e fundou sua própria igreja, a anglicana, perseguindo a matando católicos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, bem como protestantes, tanto que estes, os protestantes, especialmente os puritanos, foram para as trezes colônias na América do Norte e ajudaram a fundar os Estados Unidos da América).

Na sua peça majestosa, o famoso trovador inglês – misturando elementos de fé, exaltações heróicas, princípios cavalheirescos –, narra os fatos históricos com singular brilhantismo, servindo o texto, em seu todo, para encantar e motivar as pessoas em suas batalhas diárias. Uma das passagens mais bonitas é a que trata da famosa e verídica Batalha de Azincourt, solo francês, com destaque ao discurso do bravo rei Henrique V, cujas palavras motivaram seus soldados e mudaram os fatos daquele dia, transformando uma iminente derrota numa vitória consagradora.

A Batalha de Azincourt é uma das mais importantes e impressionantes batalhas da história. Imortalizada por William Shakespeare num dos seus mais famosos dramas históricos, Henrique V, ela traduz sentimentos virtuosos como coragem e determinação. O discurso feito pelo Rei inglês Henrique V é eloqüente e inspirador. Por meio deste emocionante discurso, ele fortaleceu os ânimos dos seus guerreiros, nobres e comuns, agigantando-os diante de um adversário mais numeroso e descansado.

Vamos imaginar a cena: as primeiras horas da manhã de um dia frio, chuvoso, espessa névoa baila sobre o campo. O pequeno exército do Rei Henrique V em território inimigo, após meses de aguerrida campanha militar, conquistando cidades e espaços, mas a elevado custo. Um exército de homens-farrapos, sujos, exaustos pelas batalhas e marchas contínuas, famintos, feridos pela saudade de casa e pelas baixas dos amigos de campanha, um exército vitorioso até aquele momento, mas alquebrado em seu orgulho. Este exército vê-se, da noite para o dia, em campo aberto, a planície de Azincourt, diante de adversário cinco vezes mais numeroso, descansado, em sua própria terra natal, alimentado e bem armado. Olhar para o exército inimigo era o mesmo que olhar para o espectro da morte!

Qualquer um temeria diante de derrota atroz que se mostrava iminente. Qualquer outro rei poderia se acovardar e se deixar tentar pela rendição. Não Henrique V. Ele confiava na justeza de sua causa. Havia deixado rufar os tambores da guerra em seu coração porque sabia que estava amparado pelo melhor Direito e que o emprego da força era, então, a única forma de materializar a justiça.

Sua vida e a vida de seus compatriotas não seriam dadas em vão. A honra da Inglaterra estava em jogo e a própria dignidade do povo inglês, encarnada na figura corajosa e destemida do seu líder maior. E se a causa de Henrique V era uma causa justa, decerto Deus estaria ao lado dos ingleses, protegendo-os na batalha heróica, assim acreditava piamente o grande rei (que, aliás, se encontrou com São Bernardo de Claraval anos depois, recuando na tentação de ordenar Bispos em atenção ao grande santo).

Pouco antes do embate com o exército francês, Henrique V ouviu um dos seus oficiais lamentar a ausência de combatentes do lado inglês, praguejando os “dez mil desses homens da Inglaterra que hoje nada estão fazendo!”.

Em resposta, Henrique V profere um discurso arrebatador, um discurso que desperta a coragem no coração de cada membro do seu exército, um discurso que vence o temor e motiva profundamente o seu exército. O discurso de um verdadeiro líder, de alguém engajado em transformar a realidade. Palavras de um homem inspirado por Deus!

Partes deste mesmo discurso merecem ser reproduzidas e guardadas para a eternidade, como fontes de constante inspiração diante das adversidades da vida:

“Quem expressa esse desejo? Meu primo Westmoreland? Não, meu simpático primo, se estivermos destinados a morrer nosso país não tem necessidade de perder mais homens do que nós; e se vivermos,quanto menos formos, maior será para cada um a parte que nos caberá de honra. Deus assim o deseja! Por favor, não desejes um homem a mais. Por Júpiter! Não tenho a cupidez do ouro e pouco me importa que vivam as minhas custas; sinto pouco que outros usem minhas roupas; essas coisas exteriores quase não tem importância em meus desejos; mas, se for pecado cobiçar a honra eu sou a mais pecadora das almas existentes. Não, por minha fé, meu primo, não desejes um homem mais da Inglaterra. Paz de Deus! Não desejaria perder tão grande honra, pela melhor das esperança, pois um homem a mais talvez quisesse partilhá-la comigo.Oh! Não anseies por um homem mais! Proclama, antes, através do meu exército, Westmoreland, que pode retirar-se aquele que não tiver coragem para lutar; entreguem-lhe o passaporte e ponham-lhe na bolsa algum dinheiro para que possa viajar; não desejaríamos morrer em companhia de um homem que tivesse medo de acabar como nosso companheiro. Hoje é o dia da festa de São Crispim, quem sobreviver a este dia voltará são e salvo para casa, ficará na ponta dos pés toda vez que falarem no dia de hoje e crescerá só com o nome de São Crispim. Quem sobreviver a este dia e chegar à velhice, anualmente na vigília desta festa, convidará os amigos e dir-lhes-á: “Amanhã é dia de São Crispim.” Então arregaçará as mangas e, ao mostrar as cicatrizes,dirá: “Recebi estas feridas no dia de São Crispim. “Os velhos esquecem,entretanto,aquele que de tudo se tiver esquecido,lembrar-se-á, mesmo assim, com satisfação, das proezas que realizou naquele dia.E então,nossos nomes serão tão familiares em suas bocas quanto os nomes de seus parentes; o Rei Henrique, Bedford, Exeter, Warwick, Talbot, Salisbury e Glócester ressucitarão na lembrança viva e saudável com taças espumantes.Está história será ensinada pelo bom homem ao filho e, desde este dia até o fim do mundo, a festa de São Crispim e São Crispiniano nunca passará sem que esteja associada à nossa recordação, de nosso pequeno exército, de nosso feliz pequeno exército de nosso bando de irmãos; porque, aquele que hoje verter o sangue comigo será meu irmão; por muito vil que seja, está jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que agora permanecem na Inglaterra, deitados no leito, sentir-se-ão amaldiçoados pelo fato de não se encontrarem aqui e considerarão de baixo preço a própria nobreza, quando ouvir falar um daqueles que combateram conosco no dia de São Crispim!”.

Um brado de guerra, como a soma dos rugidos de mil leões, explodiu e ecoou depois das palavras do Rei Henrique V e o exército transformou-se completamente, com os olhos vidrados nos inimigos como os das águias em suas presas! De homens-farrapos, os soldados de Henrique V passaram a ser homens-lobos, mensageiros do caos!

Depois do discurso, motivados, seus homens partiram para a batalha cruenta que durou quase todo um dia. O verde da planície da Azincourt foi tingido pelo escarlate do sangue dos milhares de guerreiros que tombaram naquela oportunidade, cujo desenrolar dos fatos pareceu um prenúncio do Juízo Final. O dia foi dos ingleses. Do lado francês, a vergonhosa e humilhante derrota. Milhares e milhares de soldados tombaram diante das espadas inimigas. Poucas baixas do lado inglês. Uma vitória quase milagrosa! Comovidos pelo discurso do Rei Henrique V, os soldados ingleses multiplicaram suas forças e lutaram como centauros ferozes e enlouquecidos, abrindo aos franceses às portas do pior dos infernos!

Qual o segredo do Rei Henrique V? De onde proveio tanta sabedoria e em hora tão oportuna? Como ele conseguiu motivar suas tropas? Muitas são as respostas. As palavras do Rei Henrique V eram palavras sinceras, nascidas de suas entranhas e do seu coração. Não foram palavras vazias ou empoladas, mas palavras que expressavam a natureza corajosa de um homem destemido. Palavras, isso é muito importante frisar, acompanhadas de um poderoso testemunho de vida e de fé.

Henrique V não apenas falava, mas também fazia. Não se limitou ao discurso, mas foi o primeiro a empunhar a espada e, à frente do exército, entregar-se a batalha, arriscando sua própria vida e protegendo a de seus comandados. Depois da batalha ele, como sempre, era o mais exausto, o mais ferido, o mais coberto de sangue, seu e do inimigo. Ninguém de boa-fé resiste à força de um testemunho. E testemunhar com ações corajosas era a marca principal do bravo rei Henrique V.

Pensamos, contudo, que o Rei tocou o coração do seu exército porque, antes de tudo, o próprio texto de Shakespeare mostra isso, ele, humildemente, bom católico, incorporou os ensinamentos cristológicos de orar e vigiar. Enquanto as tropas dormiam, na noite anterior a batalha, o Rei Henrique V guardou vigília. Visitou seus soldados, confortando-os. Verificou pessoalmente os preparativos finais para a batalha. Contemplou as cenas da guerra e, humildemente, prostou-se suplicando a misericordiosa ajuda de Deus.

Numa comovente prece, pediu a Deus: “Reveste de aço os corações de meus soldados! Defende-os do medo; tira-lhes a faculdade de contar, se o número de nossos adversários tiver que lhes retirar a coragem!… Hoje, não, meu Deus!”. Logo depois ele pede perdão pelos crimes e pecados de seus antepassados e dos seus próprios e com o coração contrito e humilhado assume compromissos diante de Deus de mudança de vida, finalizando de forma muito bonita, lembrando o glorioso Ricardo Coração-de-leão, bravo cruzado, prometendo: “Farei mais ainda; mas tudo que puder fazer será pouca coisa, visto que minha penitência deve vir depois de haver implorado perdão para tudo isto!”.

A súplica humilde e penitente do Rei Henrique V propiciou a graça de Deus, fortaleceu seu espírito e permitiu, com seu próprio exemplo de vida, o encorajamento dos seus soldados e a vitória final.

Aliás, ao saber da vitória, dos números impressionantes, um punhado de ingleses mortos e milhares de franceses tombados, o Rei Henrique V, mais uma vez demonstrando sabedoria que não pode ser jamais esquecida, retirou de si qualquer glória pela vitória, decretando que seria punido com a morte quem se ufanasse do triunfo daquela vitória, pois à ninguém competiria qualquer mérito senão a Deus que abençoou o corajoso exército inglês naquele dia, no dia da batalha de Azincourt!

E que esse mesmo espírito, corajoso, virtuoso (especialmente no que tange à virtude cardeal da Fortaleza), fidedigno à Deus, seja o espírito a nos alimentar cotidianamente nas lutas diárias e nos motive sempre e em todos os campos de nossas vidas.

Ao longo de nossa trajetória, enfrentamos muitas, pequenas ou grandes, batalhas de Azincourt. Por mais dolorosa que a adversidade se nos revele, é preciso encará-la com coragem, pois sua aparência devastadora, sua imagem amplificada, como era a do exército francês diante do exército em frangalhos do rei Henrique V, não pode e não será maior do que a nossa determinação em vencer e vencer por amor a Deus. Conseguiremos converter esse desejo de vitória, essa vocação ao sucesso, se conseguirmos, antes, nutrir em nosso comportamento moral a virtude da Fortaleza.

Cada “não” que dissermos às fraquezas, aos vícios, aos comportamentos equívocos, será um sim à verdade e um sim ao triunfo. A arma que dispomos para tanto, sedimentada na fé resoluta, é a virtude da fortaleza.


A virtude da fortaleza é nossa poderosa aliada no combate ao mal.