terça-feira, 29 de outubro de 2013

A concepção de que a alma é imortal.


Por Cláudio Cássio e Igson Mendes

A concepção de que a alma é imortal, foi aplicado primeiramente pelo filósofo
Platão e Aristóteles.
Platão. No platonismo a alma é um princípio puramente espiritual e distinto do corpo. Já outro reconhecido filósofo Aristóteles, afirma em seu pensamento que a alma está unida ao corpo, porém a espiritualidade e imortalidade são menos visíveis. Todavia, tais visões foram revistas e cristianizadas pela filosofia cristã, se tornando teocêntrica.

A bíblia não pretende fazer ciência sobre o homem nem sobre Deus, ela nos mostra aspectos relevantes para uma concepção de homem. Seu enfoque é religioso. Enquanto os filósofos definem o homem como "animal racional”, a bíblia o define como “imagem de Deus". Na narrativa sacerdotal do gênesis, quando descreve que viemos do barro nos mostra nosso vínculo terrestre, que animado pelo sopro divino, é um "vivente" vinculado a Deus.

Essas questões são antigas e surgem porque o homem é o único vivente que indaga sobre sua própria natureza, que se torna problema para si mesmo. Somente nós somos conscientes de si mesmos. Somente nós podemos refletir sobre as ideias e ações.

Nós entendemos que nossa fé está vinculada a uma conversão radical, isto implica também a quebra de paradigmas pré-concebidos por "falsa cultura", mudança de pensamentos e atitudes, é a metanóia.

Somos livres para debater, mas jamais forçar ou impor o que pensamos. Um homem só jamais será maior que o todo.

Etimologicamente, o termo “alma” é usado para traduzir o hebr. Nefesh. A tradução é infeliz; alma, na linguagem comum, reflete o complexo de ideias que à filosofia grega passada através do escolasticismo medieval. No AT, o conceito grego de alma (psyché) basicamente é o “eu pessoa” (Sb 3,1; 8,19s). Já no NT, a psyché é associada á vida. (Mt 2,20; At 4,32; Rm 11,3; Fl 2,30; Ap 12,11;20,4;27.10.22). Categoricamente, a Igreja afirma que a esperança, certeza da salvação, é a âncora da psyché (Hb 6,19). Concretamente,  a novidade da fé do NT não deriva de uma nova ideia de nefesh-psyché, mas da Revelação Divina ao longo da história da Salvação em Cristo e do significado da vida.

Nos estudos que fizemos, percebemos que a doutrina agostiniana da imagem de Deus
Imagem de Deus em: a criação.
é uma das mais completas e coerentes de toda a Patrística. Agostinho ordena e sistematiza os textos bíblicos sobre o tema desenvolvendo toda uma antropologia ao mesmo tempo metafísica e espiritual. Segundo ele, a imagem encontra-se no interior da alma, no que há de permanente e imortal, ou seja, nas três potencias: memória (mens), inteligência (notitia) e vontade (amor), que formam por assim dizer, a sua textura natural. O que faz que a alma seja imagem de Deus é o fato de ela ser capaz de Deus e poder participar de Deus.

Já Tomás de Aquino vê a semelhança do homem com Deus fundamentado na unidade física e espiritual. Tomás acolhe o pensamento de Aristóteles, que diz que o homem é homem, por sua natureza, em potência, e que somente por seus atos livres se transforma em homem, em ato.

Compreender que os dois elementos que se distinguem no ser humano, “corpo e alma” não é separa-los, pois ambos constituem a unidade radical da pessoa, e quando se “separam” ocorre à morte.

Na sociedade moderna temos os pensamentos do materialismo e idealismo que afirmam a homogeneidade radical do ser, reduzindo tudo á matéria ou ao espírito. Eliminam a transcendência e imortalidade da alma.

Através dos estudos das causas primárias (metafísica), afirma-se a autotranscendência
do homem, quanto aos elementos: mente alma, espírito. Mas, dentro da temática que abordamos aqui para não fugirmos da centralidade do conteúdo, entendemos então, como autotranscendência a afirmação de que a matéria torna-se corpo humano apenas no instante em que começa a existir a alma: graças ao seu ato de ser, adquire consistência e autonomia também corpo.

“Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso "ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts 5,23). A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa que o homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é capaz de ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.” (CIC § 367).

A verdade, amigos, é que só tomamos conhecimento do fundamento espiritual do ser humano, em questão, quando dirigimos nossa atenção não para aquilo que conhecemos, mas para o conhecimento como tal.

O dualismo corpo-alma na tradição filosófico-religiosa é a tentativa de esclarecer a ambivalência do homem a partir do conceito de união de diferentes substâncias. Contra toda a forma de dualismo, devemos salientar que o homem ou a pessoa singular é a única substância que tem propriedades psíquicas e físicas, ou seja, não se reduz ao corpo nem à alma. A alma humana está em um corpo, e o corpo humano é animado. Como humanos somos, em corpo, seres encarnados. O corpo é a nossa maneira se ser no mundo. Através do corpo estamos em comunhão com todo o universo material. Sem corpo não há mundo nem consciência.

A alma é a forma do corpo, permanece um só com ele, e essa forma é o espírito de um homem, um espírito individual.

A alma humana une a finitude do homem, enquanto começou no tempo, com a infinitude de Deus, enquanto é imortal.

A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus - não é "produzida" pelos pais - e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá novamente ao corpo na ressurreição final.” (CIC § 366)

O homem é "corpore et anima unus" (uno de corpo e alma). A doutrina da fé afirma que a alma espiritual e imortal é criada diretamente por Deus. (CIC § 382)

Resumindo também a questão do homem "imagem de Deus", lemos que O homem é parecido com Deus (Gn 5,1), como o filho com seu pai (Gn 5,3), porque recebeu do seu Criador algo divino (Gn 2,7). Sendo imagem de Deus, ele representa Deus entre as demais criaturas, mas não é Deus. Por isso, a vida do homem é inviolável. (Gn 9,1).

A semelhança de Deus da pessoa é antes de ser um conceito antropológico, um conceito teológico. Tal semelhança manifesta-se na diferença sexual e na comunhão das pessoas. Desde a criação, ser pessoal consiste na diferença sexual e na relação mútua. Deus aparece para a humanidade em sua imagem feminino-masculina. Diante disto, o lógico é compreender que a profunda e verdadeira realização do ser se dá somente na convivência entre homem e mulher.

Enfim, Cristo é a imagem perfeita de Deus. Nós nos tornamos imagem de Cristo pelo Batismo e mais próximos dessa perfeição.

REFERÊNCIAS:
1. ARDUNI, Juvenal. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. 5.edição. Paulus.2009.
2. Zilles, Urbano. A crítica da religião. Porto Alegre. EST, 2009.
3. COMBLIN, José. Antropologia cristã. Petrópolis. Vozes, 1985.
4. RAHNER, Karl. Teologia e Antropologia. Paulinas, 1976.
5. Zilles, Urbano. Antropologia teológica. Paulus, 2011.
6. Mondin, Battista.1926. O homem, quem é ele? : elementos de antropologia filosófica. Ed. Paulus.1980
7. McKenzie, John L. Dicionário Bíblico. Ed. Paulus,1983.

8. Fernandez, Aurélio. Moral Fundamental – Iniciação Teológica. Ed. DIEL, 2004.

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